'Se Deus quiser' Supremo vai confirmar autonomia do Banco Central, diz Bolsonaro

Lei sancionada em fevereiro está sendo questionada na Corte por partidos de oposição. Presidente do Senado defende constitucionalidade do texto

Foto: Marcos Corrêa/PR
Campos Neto, Bolsonaro e Guedes

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira que, “ se Deus quiser ”, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai confirmar a validade da lei que tornou o Banco Central (BC) autônomo no início do ano. O texto foi questionado na Corte por partidos de oposição.

"A autonomia do BC se deve a você, Roberto Campos. Pela confiança que não só eu, mas todos temos em você. Se Deus quiser, o Supremo vai garantir o votado pelo Parlamento e você vai ter tranquilidade, autonomia para conduzir o destino do Brasil via Banco Central. Você é uma pessoa excepcional, todos confiam em você e nós depositamos em grande parte a você, juntamente com o Paulo Guedes , o destino da nossa economia", disse Bolsonaro, se dirigindo ao presidente da autoridade monetária durante evento de lançamento do Plano Safra, no Palácio do Planalto.

Bolsonaro sancionou a lei da autonomia do BC em fevereiro. Uma ação do PT e do PSOL no Supremo sustenta que a proposta é inconstitucional porque não foi de iniciativa do Congresso, e não do Executivo.

O julgamento virtual chegou a ser iniciado na semana passada, mas foi interrompido após o ministro Luis Roberto Barroso pedir vista. A votação será retomada nesta sexta-feira, ainda por meio do sistema remoto.

Pacheco defende proposta

Nesta terça, o presidente do Congresso e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) encaminhou aos ministros do STF) um memorial para defender o projeto.

No documento, a Casa argumenta que a lei não é inconstitucional por não tratar de matéria de iniciativa privativa do Poder Executivo, “na medida em que não incide sobre esse nenhum aspecto da relação laboral que vincula servidores públicos e a União”.

“Ainda que se pudesse inscrever o conteúdo da Lei Complementar nº 179/2021 em algum domínio de privatividade do Poder Executivo, o processo legislativo, no caso, desenvolveu-se de modo a observar essa exigência constitucional”, afirmou Pacheco, que destacou a “preservação de todas as prerrogativas institucionais relevantes ao caso”.

O senador ainda defendeu, na manifestação, que a lei é “o produto nítido e indiscutível da concertação de vontades do Poder Executivo e das duas Casas Legislativas do País, justamente o que se exige de um devido e constitucional processo legislativo”.

Fontes da Corte ouvidas pelo GLOBO afirmam que o caso tem gerado uma atuação intensa do setor financeiro — o que tem, inclusive, gerado desconforto em alguns ministros.

O relator, ministro Ricardo Lewandowski, até agora o único a votar, se manifestou na última sexta-feira pela derrubada da lei complementar 179, concordando com o parecer emitido pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em seu voto, Lewandowski afirmou que “não se está debatendo se a autonomia do Banco Central é benfazeja ou deletéria para o destino da economia do País, nem se a decisão congressual nesse sentido foi ou não adequada”.

Para o ministro, o imbróglio está em “saber se, por iniciativa exclusivamente parlamentar, à luz dos ditames constitucionais, seria possível subtrair do Presidente da República o controle de algum órgão integrante da Administração Pública Federal, sem que tal fosse feito por meio de projeto de lei com origem no Poder Executivo”.