Conta de luz vai ficar 20% mais cara para cobrir rombo de R$ 1,5 bilhão
Setor considera esta a pior crise hídrica na região nos últimos 91 anos
As contas de luz devem ficar mais caras neste ano, diante da pior crise hídrica na região das hidrelétricas dos últimos 91 anos e do acionamento de usinas termelétricas para garantir o fornecimento de energia . A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai aumentar os valores das bandeiras tarifárias, uma sobretaxa que é acionada quando o custo da geração de energia sobe.
O patamar mais alto desse sistema deve subir mais de 20%. A conta das bandeiras já registra um rombo de R$ 1,5 bilhão neste ano.
Em entrevista ao GLOBO, o diretor-geral da Aneel, André Pepitone, disse que os valores ainda não foram definidos, mas a decisão será tomada nas próximas semanas.
A bandeira tarifária é um adicional cobrado nas contas de luz para cobrir o custo da geração de energia por termelétricas, o que ocorre quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas está muito baixo.
O mecanismo também serve para o consumidor ficar ciente do custo da geração de energia, ao dividir o sistema em três cores: verde, amarela e vermelha (que tem dois patamares). A previsão de analistas é manter a bandeira vermelha 2 até novembro, quando tem início o período de chuvas.
"Como vamos estar com todas as térmicas funcionando, o que a agência está fazendo agora é definindo qual é o valor que vai ser estabelecido para cada patamar da bandeira. E, com certeza, vai ser maior que hoje. A bandeira vermelha patamar 2 hoje está em R$ 6,24. Esse valor vai ser maior, porque o universo de térmicas que vai ser acionado agora é grande e vai funcionar até dezembro", disse Pepitone.
Será o primeiro reajuste nos valores das bandeiras desde 2019. Os valores foram mantidos em 2020 e a bandeira verde foi acionada de junho a novembro.
"Nós sabemos que vamos ter que usar bastante térmica e, com isso, vai encarecer a tarifa. Porque tem que se pagar essas térmicas. Certamente os novos valores dessas bandeiras vão ser maiores que os praticados hoje. Nós estamos aplicando o modelo para estabelecer esses valores", afirmou o diretor.
Em março, antes de a crise ficar clara, a Aneel abriu consulta pública para reajustar as bandeiras e chegou a sugerir novos valores. Pepitone disse, por outro lado, que os números serão ainda maiores do que os sugeridos no início do ano.
Oportunidade perdida?
'Brasil poderia ser líder mundial da transição energética’, diz pesquisador alemão Philipp Hause
Hoje, é cobrado R$ 1,34 a cada cem quilowatts-hora (kWh) consumidos na bandeira amarela; R$ 4,16 na bandeira vermelha 1; e R$ 6,24 na vermelha 2. A Aneel chegou a sugerir que a bandeira vermelha 2 subisse para R$ 7,57, mas esse valor será ainda maior. Portanto, a alta da bandeira vermelha será superior a 20%.
O diretor da Aneel negou a possibilidade de ser criada uma nova cor para as bandeiras, com cobrança acima da vermelha 2.
Consumo consciente
Neste ano, a conta das bandeiras já está com um rombo de R$ 1,5 bilhão. Todo o dinheiro arrecadado com a sobretaxa vai para uma conta única, que repassa os valores para os geradores de energia. Mas o valor arrecadado a mais ainda não está dando conta de cobrir o custo adicional.
Os dados da Aneel vão até abril, quando era aplicada a bandeira amarela. Depois de abril, a geração por termelétricas aumentou e atingiu recordes. E também foi acionada a bandeira vermelha.
"A gente precisa corrigir o valor do patamar das bandeiras justamente para que não haja esse descasamento. Esses valores que estão sendo praticados hoje foram estabelecidos lá atrás. O maior despacho térmico (uso de energia) neste ano encarece a conta. Então vou ter que atualizar esses valores para que a gente possa fazer frente aos custos. Isso significa dizer que vai subir o valor dos patamares", disse Pepitone.
A Aneel defende as bandeiras porque, sem ela, todo o custo extra seria repassado aos consumidores apenas no ano seguinte, com valores corrigidos. Ou seja, o consumidor acabava pagando juros, o que não ocorre com o acionamento das bandeiras tarifárias.
"Esse custo vai ser pago, não interessa quando. A bandeira permite que isso seja pago agora", disse Pepitone
Ele acrescenta:
"É um sinal claro para a população que estamos na pior crise hídrica dos últimos 91 anos, que não tem água, e que todo o parque térmico será utilizado. Isso tem um custo associado e esse custo será representado pelas bandeiras. O lado positivo disso é que o consumidor não precisará pagar a atualização desse valor no reajuste tarifário da distribuidora no próximo ano."
Pepitone afirmou ainda que a Aneel fará uma campanha para o “uso consciente" de energia e de água:
"Nós estamos programando uma campanha de uso racional de água e energia. Isso já foi feito pela agência em 2015 e 2017."