Lutar ou fugir: a hora da decisão
Werner Roger, colunista do iG, orienta reflexões sobre as atitudes que podem ser tomadas na hora de realizar um investimento
O meio do ano é um bom momento para refletirmos o que fazer com nossos investimentos . Assim como quase tudo na vida, as decisões de investimentos são binárias. Tomar risco e buscar aumento de patrimônio ou manter uma postura conservadora e proteger o capital investido. O ser humano, pelo seu instinto de sobrevivência, reage, na maioria das vezes, seguindo seu impulso animal de proteger sua vida, assumindo atitudes defensivas. Em 1927, essa reação, também chamada de estresse agudo, foi descrita por Walter Bradford Cannon, médico titular do departamento de psicologia de Harvard, como a forma pela qual os animais reagem a ameaças, resultando em uma série de reações fisiológicas, como aumento de adrenalina.
O economista e professor de Chicago, Richard H. Thaler, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2017 e um dos fundadores da ciência comportamental, descreve, em seu bestseller Misbehaving, como o ser humano não reage racionalmente às tomadas de decisões econômicas. Seguimos nossos instintos de preservação e nos abatemos muito mais com as perdas do que nos alegramos com os ganhos que são facilmente esquecidos. As perdas martelam nossa memória e, a cada vez que devemos tomar decisões importantes, como de investimentos, lembramos das experiências de perdas passadas.
De maneira análoga, em decisões de fuga ou proteção, nosso instinto animal tende a seguir a manada, pois nos sentimos protegidos pela multidão ou acreditamos que a maioria tem razão. Gestores de investimentos, reagem principalmente seguindo seu instinto animal. Alguns, para defenderem seu emprego, têm medo de errar sozinhos, preferindo acreditar que seu emprego estará garantido se errarem com a maioria. Afinal, melhor errar em grupo do que correr risco e ser o único a acertar.
Em minha carreira de quase 40 anos no mercado financeiro, passei por vários momentos de muitas incertezas, e foram nestes que observamos posteriormente, as melhores janelas de investimentos. O gráfico a seguir mostra o comportamento do índice Bovespa corrigido pelo IPCA (ajustado pela inflação) nos últimos 40 anos e os diversos pontos de stress e inflexões. Destacamos as melhores oportunidades: entre 1982 (forte recessão e inflação ascendente) e o Plano Cruzado em 1986; entre 1992 (pré-Plano Real) até 1994; entre 2002 (pré-eleição do candidato Lula) até maio de 2008; entre a forte queda em outubro de 2008 (crise mundial após a quebra do Lehman Brothers) até janeiro de 2010; entre janeiro de 2016 (governo Dilma pré-impeachment), e pós pandemia com ponto de inflexão em 20 de março de 2020 até o momento atual, dia 17 de maio, quando a IBOV se valorizou 82% desde o ponto mínimo no ano passado.
Várias outras janelas se abriram, também seguidas de várias crises e quedas. Em minha carreira profissional, atuei 25 anos em grandes instituições norte-americanas na análise de crédito, como Chase Manhattan, Citibank e Western Asset, e 12 anos em boutiques de investimentos na gestão de renda variável (ações) e agora como um dos sócios fundadores da Trígono Capital inúmeras foram as crises, e oportunidades. A maior dificuldade é saber exatamente o ponto de inflexão, frustrando os mais astutos market timers, ou adivinhos. Nos últimos 23 anos, trabalhei em gestão de recursos de terceiros (crédito e renda variável) e, desde 1983, como investidor na bolsa de valores . Este perfil de carreira profissional me obrigou a atuar de forma prudente em crédito e em multinacionais, mas também de forma mais arrojada em renda variável como gestor em boutiques de investimentos, além de, como todos nós, gerir as finanças pessoais, buscando segurança familiar e aumento do patrimônio.
Nosso objetivo com este texto é ajudar aos leitores tomarem decisões pessoais de investimento, avaliando o seu próprio perfil ou tolerância ao risco e se a necessidade é de proteção ou expansão do patrimônio pessoal e familiar.
Não existe dois investidores com o mesmo perfil de risco, cabendo a cada um de nós adequar nossos investimentos à nossa tolerância de risco, capacidade de poupança, necessidade de preservação ou aumento de capital; ou seguir nossos instintos de fugir (preservar) ou lutar (ampliar). Como gestores de investimentos, estamos sempre expostos à muitos acertos e nenhum elogio; a um erro e muitas críticas. Como investidores e tendo nossa consciência como juiz, buscamos sempre as melhores decisões baseadas nas informações disponíveis, na experiência e nas melhores práticas de investimentos utilizadas na Trígono.
Oferecemos aos leitores um momento de reflexão antes de seguir um impulso de lutar ou fugir. Estamos, uma vez mais, diante de um momento único que reúne uma combinação de inúmeras variáveis. Estará a pandemia em seu final? Estamos na iminência de aumento nas taxas de juros nos EUA e no Brasil? Como os mercados reagirão? Ou o ciclo de taxa de juros abaixo da inflação permanece por mais um bom tempo de forma a recuperar a economia? Será as altas das commodities o início de um ciclo ou uma rápida bolha que será rapidamente estourada? O mesmo se aplica para as empresas de tecnologia ou mesmo a atual moda das criptomoedas?
Caberá a cada investidor decidir o que fazer, ou simplesmente aguardar um pouco mais até que as nuvens se afastem. Mas, quando o céu estiver claro, os preços dos ativos refletirão este cenário, que poderá ser sombrio ou de luz intensa.