"Não dá para sustentar uma casa com R$ 375", diz mãe que recebe o auxílio
87% dos brasileiros com mais de 16 anos consideram o valor do benefício insuficiente, aponta pesquisa Datafolha
Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 9 a cada 10 brasileiros reclamam do novo auxílio emergencial , que paga de R$ 150 a R$ 375 por mês para os beneficiários.
De acordo com o levantamento, realizado entre os dias 11 e 12 de maio, 87% dos brasileiros com mais de 16 anos consideram o valor do auxílio emergencial insuficiente. Nesta nova etapa, que só teve início depois do agravamento da pandemia, entre os meses de janeiro e março deste ano, o valor pode chegar a R$ 375 para mães que são chefes de família e beneficiários do Bolsa Família. Para quem mora sozinho, o valor atual é de R$ 150. A nova rodada contou com o aporte de R$ 44 bilhões , cerca de 15% do que foi liberado no ano de 2020.
Yasmim Batista, 26, é mãe de duas crianças, uma de 10 e outra de 8 anos. Mãe solteira, ela faz parte do programa de assistência do governo federal e recebe a cota maior. No entanto, para a jovem, o valor é insuficiente. "Não dá para sustentar uma casa com R$ 375. Não dá para nada."
Sem trabalhar desde o início da pandemia, ela conta que a única renda da família é a que vem do programa, com valor acrescido pelos pagamentos emergenciais. O Datafolha também mostrou que 55% consideram que o valor que ganham para sobreviver atualmente é insuficiente ou muito pouco.
A fim de dar assistência aos mais afetados pela pandemia, o governo federal realizou três fases de pagamento do auxílio. Na primeira, a partir de abril de 2020, o valor era de R$ 600, mas poderia aumentar para R$ 1.200 em caso de mães chefes de família, como Yasmim. "Quando era esse valor, dava para pagar algumas contas e fazer uma compra de mês de R$ 500", lembra. Enquanto esteve em vigência, o auxílio de R$ 600 teve um custo de quase R$ 300 bilhões, com 66 milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade econômica atendidos.
Já na segunda fase, as parcelas foram de R$ 300 (R$ 600 para mães solo). "Conforme o dinheiro diminuía, eu tinha de diminuir gastos, escolher o que pagar. Nem sempre dá para comprar as coisas delas [filhas]", lamenta a mãe solo. Com os efeitos do fim do auxílio , que teve a última parcela no fim de dezembro passado e a escalada de casos e número de mortes, houve retração econômica e agravamento da crise social no Brasil.
Atualmente, o número de desempregados no país está em 14,4 milhões, o recorde da série histórica do IBGE. Sem emprego e com auxílio de menor valor, muitos sofrem para sobreviver, colocar comida na mesa e manter as contas em dia.
Valor do auxílio 2021 é insuficiente?
Para Renan Pieri, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, "é um valor muito baixo para manter as despesas básicas. Não podemos entender essa fase do programa como uma garantia do sustento das famílias", afirma.
O valor baixo funciona apenas como uma complementação da renda e não como uma substituição completa do trabalho, o que força as pessoas a não seguirem as medidas de distanciamento social , segundo o professor. "O valor de R$ 150 deixa de ter um caráter sanitário", pontua.
O pesquisador avalia a criação do programa como "solto". "Tivemos tempo para ter um desenho melhor e focar a política aos mais vulneráveis. Acho que o grande problema é que era muito abrangente e com grande possibilidade de manipulação para participar", comenta. Ele ressalta que há tecnologias sociais para identificar o público que mais precisa e eliminar as fraudes .
Por outro lado, embora o número de desempregados no país seja alto e os impactos da Covid-19 tenham colocado parte da população em situação mais vulnerável, a retomada da economia depende de uma política de vacinação, que pode impactar o cenário de postos de trabalho.
"Nesse momento, ainda que insuficiente, é importante o valor de R$ 150,00 às famílias. O valor de R$ 600, no ano passado, teve impacto importante até para reduzir os índices de pobreza ", diz. Para o especialista, criar um auxílio intermediário , ou seja, nem tão baixo e nem tão alto quanto o de 2020 seria uma medida para segurar a crise e manter o programa por mais tempo.