Itapemirim começa a voar em junho, em meio a disputa judicial
Empresa já consumiu mais de R$ 27 milhões do caixa da Viação Itapemirim, que está em recuperação judicial. Venda de passagem começa neste mês
A companhia aérea ITA, do Grupo Itapemirim, conseguiu as licenças necessárias para começar a voar e vai iniciar a venda de passagens nesta sexta-feira, dia 21 de maio. Inicialmente, a empresa vai operar com cinco aeronaves Airbus A320 para nove destinos, a partir do dia 29 de junho.
A ITA pertence a Sidnei Piva, empresário dono do Grupo Itapemirim, de transporte rodoviário e infraestrutura. A empresa está em recuperação judicial e Piva está envolvido em um conflito societário com a família Cola, fundadora da companhia, de quem Piva comprou o negócio há três anos.
A empresa começa a operar em meio à maior crise da história do setor aéreo, provocada pelos efeitos da pandemia na retração da demanda. Mesmo assim, a empresa vai ingressar no mercado sem cobrar pelo despacho de bagagem de até 23kg, ao contrário das concorrentes Gol, Latam e Azul.
Investimento de US$ 500 milhões
Além disso, as aeronaves terão 162 lugares, 18 a menos do que a configuração padrão do Airbus A320. A disposição é similar à praticada pela extinta Avianca Brasil.
Com isso, a companhia garante oferecer 30% a mais de espaço entre as fileiras dos assentos. Os passageiros terão entre 79 cm e 107 cm de espaço, a depender da classe em que voarem.
A Itapemirim, segundo Piva, tem caixa suficiente para sustentar a companhia. O empresário quer encerrar o processo de recuperação judicial ainda neste mês.
Em abril, O GLOBO noticiou que a Itapemirim já havia queimado R$ 27 milhões da empresa em recuperação judicial em seu projeto de criação da companhia aérea ITA, valor que contrastava com os R$ 21,6 milhões desembolsados para o pagamento de credores da empresa até aquele momento.
O plano de recuperação judicial da Itapemirim prevê que a empresa quite dívida de R$ 35 milhões com trabalhadores até o fim do mês. O restante das dívidas, que soma R$ 132 milhões, deve ser pago em parcelas até fevereiro de 2027. A empresa, contudo, não paga as parcelas no cronograma previsto no plano de recuperação, conforme revelado pela coluna Capital.
Segundo Piva, a empresa recebeu um financiamento de um fundo dos Emirados Árabes Unidos de US$ 500 milhões (o equivalente a R$ 2,64 bilhões) para viabilizar a ITA e fazer outros investimentos, mas o nome do investidor não é revelado.
"Nós já recebemos investimento e vamos receber mais, são US$ 500 milhões, com contrato assinado e metas a serem cumpridas. É um investimento com dinheiro remunerado, como um financiamento (e não participação societária). O único acionista sou eu", afirma Piva.
Voo inaugural
O voo inaugural da ITA será entre Guarulhos e Brasília, no dia 29 de junho, e terá a renda revertida para instituições beneficentes. A partir do dia seguinte, a empresa vai voar a oito destinos: Belo Horizonte (Confins), Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Porto Seguro, Rio de Janeiro (Galeão), Salvador e Guarulhos (SP).
A partir de agosto, serão incorporadas as cidades de Florianópolis, Fortaleza, Maceió, Recife, Maceió, Natal e Vitória. Até junho de 2022, a companhia estima ampliar a malha aérea a 35 destinos nacionais.
A idade média da frota inicial da empresa é de 15 anos, idade na qual geralmente os aviões comerciais são aposentados no país. Segundo especialistas, isso não é um problema desde que a manutenção dos equipamentos esteja em dia.
Segundo Sidnei Piva, a ITA vai receber logo em duas primeiras semanas de operação mais cinco aviões, e a idade média deverá cair.
"Já no início da operação faremos a inclusão de outras cinco aeronaves que estão chegando. Até dezembro, teremos 20 aviões e de dezembro de 2021 a junho de 2022, vamos incorporar mais 30 à frota", afirma o executivo. Ao todo, serão 50 aeronaves Airbus A320, e uma média de idade entre cinco e oito anos.
Arrendamento de aviões
Pelos planos de Piva, cada avião deve fazer até oito voos diários. Inicialmente, a empresa deverá fazer 50 voos por dia, mas pretende encerrar o ano com 190 trechos diários.
"Com a pandemia, muitas linhas aéreas devolveram aviões às empresas de leasing. Esses equipamentos foram entregues sem manutenção. Quando a Itapemirim começou a buscar aeronaves, tinha muito avião, mas poucos em condições de ser entregues. Fomos fazendo os contratos de leasing, e a programação de entrega é em cinco ou seis meses, escalonada", diz Piva.
Os contratos de arrendamento das aeronaves, de acordo com o empresário, têm duração que varia entre cinco e sete anos. O plano de expansão da malha, diz ele, é flexível e vai depender da retomada da demanda em meio à pandemia.
"Acreditamos que a partir de julho terá um retrocesso (do número de casos de coronavírus). Por isso a estratégia de começar gradativamente e crescer. Se houver algum evento especial ou mudança de curso, vamos nos adaptar."
Alta do dólar e custos
As margens de lucro das companhias aéreas, que já costumam ser reduzidas, estão comprimidas em meio à retração da demanda por voos e à alta do dólar pressiona ainda mais os custos das empresas.
Mesmo assim, e com um empréstimo em dólar a ser quitado, Piva acredita que a ITA tem condições de crescer rapidamente.
"Os juros (que pagaremos são) muito baratos, o prazo para pagamento é estendido. A companhia tem caixa e pode buscar mais capital, está tranquila quanto a esse aspecto. Para manutenção (das aeronaves), o investimento é próprio."
As tarifas que a empresa vai praticar, segundo ele, não serão agressivas, e sim dentro da média de mercado. Os diferenciais de não cobrança de bagagem e maior espaço entre os assentos, não vão se refletir em preços maiores ao passageiro, de acordo com Piva.
"Estamos confortáveis para planejar esse retorno do dinheiro (a investidores estrangeiros). Por isso, estamos tranquilos em não cobrar despacho de bagagens até 23 kg. Isso não vai se refletir em tarifa mais alta. Impacta em quanto eu vou ganhar, mas os custos são muito bem calculados", finaliza.