Cortes na UFRJ prejudicam vacinas contra a Covid-19 e podem fechar universidade
Orçamento teve redução de 20% em relação ao ano passado e, segundo a reitoria, inviabiliza gastos básicos como contas de água
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pode parar as atividades. Foi assim que a reitora, Denise Pires de Carvalho , definiu a situação financeira da instituição. O orçamento da universidade só garante funcionamento até julho, de acordo com a reitoria.
Em 2020, a UFRJ recebeu R$ 374 milhões. Já em 2021, o montante do orçamento discricionário é de R$ 299,1 milhões , com redução de 20%. Este valor total considera a verba de R$ 152,2 milhões que aguarda suplementação do Congresso. No entanto, ainda sem data.
A redução, segundo a reitoria, compromete gastos discricionários, que são as despesas básicas para garantir o funcionamento da universidade, como água, luz e segurança. Ainda que parte das atividades esteja em regime remoto, a direção afirma que o corte afeta o pagamento de despesas que permitem que laboratórios funcionem. "Estamos aqui fazendo um apelo em defesa das universidades federais, pedindo que nosso orçamento seja recomposto aos patamares de 2020", diz Carvalho.
O corte nas verbas da UFRJ pode prejudicar ainda o combate à pandemia de Covid-19. "Não queremos fechar leitos nem deixar de produzir o sonho da vacina brasileira", ressalta a reitora. Uma preocupação dos estudantes da universidade é a manutenção de bolsas para auxílio à permanência. No entanto, o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, Eduardo Raupp, garante que a ajuda financeira aos estudantes não sofrerá mudanças. "Não vamos abrir mão de programas de assistência", declara.
Além disso, os serviços e atividades ameaçados de paralisação incluem a testagem de coronavírus, a pesquisa de duas vacinas contra a Covid-19 e a redução de leitos hospitalares. "Nossas vacinas podem morrer nas gavetas dos pesquisadores, não porque não há capacidade técnica, mas pelo fato de não haver investimento", aponta a reitora.
Eleonora Ziller, presidente do Sindicato dos Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Adufrj), afirma que o sindicato vê com preocupação essa redução nas verbas, inclsuive, no orçamento das agências de fomento. "Uma preocupação dos professores é que as agências de fomento à pesquisa estão com o orçamento comprometido. Muitas pesquisas na universidade acontecem porque recebemos verbas dessas instituições, como CNPq e Capes", diz.
Questionado sobre os critérios que levaram ao corte, o Ministério da Educação (MEC), por meio de nota, classificou a interrupção de repasse como "bloqueio", devido à redução dos recursos discricionários da pasta para o ano de 2021, o que provocou diminuição nas verbas das universidades federais em aproximadamente 16,5%. Reiterou que não tem medido esforços para mitigar as reduções orçamentárias das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), que teve 13,8% do orçamento bloqueado, segundo o ministério.
O MEC informou ainda que está trabalhando junto ao Ministério da Economia para disponbibilizar a totalidade dos recursos à pasta e que espera uma evolução do cenário fiscal para o segundo semestre, a fim de que as verbas para as IFES sejam desbloqueadas.