Governo teme que Guedes fale demais na CPI da Covid; entenda
Recentes declarações polêmicas do ministro da Economia fazem governistas temerem pela convocação de Guedes
Aliados do governo e o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), temem que o ministro da Economia , Paulo Guedes , seja convocado para depor na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 . Isto porque Guedes tem dado muitas declarações polêmicas, e uma nova frase chocante pode desgastar ainda mais o governo.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), que faz parte do grupo governista que compõe a CPI, disse ao UOL que não acredita que o ministro seja de fato convocado.
"Não vejo motivo nenhum para uma convocação tão estapafúrdia como essa. Não acredito que ela venha a acontecer", afirmou.
Na última segunda-feira, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta foi ouvido na CPI e fez fortes críticas ao titular da pasta da Economia.
"Esse ministro, ele não soube nem olhar para o calendário [de vacinação] para falar 'puxa, não tem vacina sendo comercializada no mundo...'. Eu só posso lamentar. O ministro da Economia não ajudou em nada, pelo contrário. Só ligava e falava 'já mandei o dinheiro, se virem, agora vamos tocar a economia", disparou.
A equipe econômica está proibida de tocar no assunto, mas alguns deles confessam que Guedes ficou bastante incomodado com as declarações de Mandetta e que, caso tenha que depor, ele precisará passar por algum tipo de treinamento.
Sincericídios
Nas últimas semanas, Guedes tem disparado frases polêmicas que, na maioria das vezes, depuseram contra ele.
Em reunião do Conselho de Saúde Suplementar, Guedes afirmou que "o chinês inventou o vírus" , e mesmo assim tem uma vacina menos eficiente do que as desenvolvidas por laboratórios privados dos Estados Unidos. Com a ironia, Guedes buscou defender a maior eficiência de empresas privadas sobre o setor público.
O caso gerou um dissabor diplomático, que fez com que outros membros do Governo tivesse que intervir para acalmar a relação com o embaixador na China no Brasil, Yang Wanming.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o senador Ciro Nogueira criticou a gestão econômica de Guedes e sua relação com o Congresso, em especial no caso da sanção do Orçamento. Nogueira diz não defender a saída de Guedes do governo, mas não rejeita a possibilidade.
" Ele não é insubstituível . Se ele morrer o país acaba? Não. Ninguém é insubstituível", afirmou.
Na mesma reunião, Guedes criticou o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) que, segundo ele, ofereceu bolsas de estudos em faculdades particulares "para quem não tinha a menor capacidade. Não sabia ler, escrever. Botaram todo mundo. Exageraram. Foi de um extremo ao outro", afirmou.
Ele também afirmou que que não foi a pandemia que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim "o avanço na medicina " e "o direito à vida''.
"Todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 ", disse. Segundo ele, "não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar" a busca por atendimento médico crescente.
Nesta semana, Guedes participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados e, apesar de reconhecer algumas colocações infelizes, reclamou que as expressões foram tiradas de contexto.
"Vocês deputados deveriam respeitar, não pode ter crime de opinião", respondeu, ao se explicar sobre a fala do "vírus fabricado na China", da qual já havia tentado se retratar publicamente.
“Estão fazendo assassinato de reputação, virou uma espiral de ódio, todo mundo destrói a biografia de todo mundo", disse o ministro.