Após fala de Guedes, Itamaraty diz a embaixador que China é 'parceiro-chave'
Diplomata chinês afirma em evento virtual que há 'diálogo fluido e produtivo' com Itamaraty
Um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar, sem saber que sua declaração estava sendo gravada, que os chineses "inventaram " o coronavírus , o chanceler Carlos França telefonou nesta manhã para o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.
O teor da conversa não foi revelado, mas aparentemente deixou satisfeito o diplomata do país asiático que, em um evento virtual, disse que a parceria entre os dois países no combate à Covid-19 continua firme.
"Temos um diálogo muito fluido e produtivo com o Itamaraty", afirmou o embaixador em um evento virtual.
Em audiência pública na Câmara, também nesta quarta-feira (28), França disse que a questão envolvendo o ministro da Economia já foi esclarecida. Ele confirmou que conversou com o embaixador chinês por telefone nesta manhã sobre o fornecimento de insumos para a fabricação de vacinas no Brasil e afirmou que a China é um parceiro-chave no combate à Covid-19.
"A China é um parceiro-chave nesta matéria", disse o chanceler.
Em uma rede social, Yang Wanming já havia mencionado a conversa com o chanceler.
"Concordamos em reforçar ainda mais a confiança política mútua num ambiente sadio e amigável, implementar os consensos entre os chanceleres e continuar a nossa parceria de vacinas".
Nesta manhã, conversei, por telefone, com o Chanceler brasileiro Sr. França. Concordamos em reforçar ainda mais a confiança política mútua num ambiente sadio e amigável, implementar os consensos entre os chanceleres, e continuar a nossa parceira de vacinas.
— Yang Wanming (@WanmingYang) April 28, 2021
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Mudança de estilo
Fontes da área diplomática disseram que França não conversou com o embaixador chinês sobre o que Paulo Guedes falou. O ministro da Economia já teria resolvido a questão. Mas o telefonema de França demonstra uma diferença de estilo marcante entre ele e seu antecessor, Ernesto Araújo.
Em duas ocasiões, o ex-ministro das Relações Exteriores saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, quando o parlamentar questionou a transparência do governo chinês em relação aos casos de Covid-19.
Araújo e Yang Wanming, ainda por causa de Eduardo Bolsonaro, também se desentenderam publicamente , devido a uma declaração do deputado sobre a possibilidade de espionagem de Pequim no Brasil com a implementação da rede 5G.
Na terça-feira (27), horas depois de falar sobre a "invenção" chinesa, Paulo Guedes admitiu ter usado uma "imagem infeliz".
Disse que estava em uma reunião interna com outros membros do governo e um dos temas era a necessidade de o setor privado de saúde complementar ajudar o Estado a ajudar no combate à pandemia.
O ministro afirmou ser grato à China pelo envio de imunizantes e disse ter tomado a chinesa Coronavac .
No mesmo dia, Yang Wanming publicou em uma rede social que a a China é o principal fornecedor de vacinas e insumos para a fabricação dos imunizantes no Brasil.
Segundo ele, até o momento os produtos chineses com esse fim respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. "A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil", enfatizou o embaixador.