De time de futebol a venda de chip: escolas de samba se reinventam na pandemia
Na ausência das principais fonte de receita, as agremiações apostaram na força de suas marcas e no seu potencial junto ao público torcedor
Num ano sem desfiles e com as quadras vazias por conta da pandemia do novo coronavírus, algumas escolas de samba estão se reinventando e buscando alternativas que passam longe da Sapucaí para driblar a crise. Na ausência das principais fonte de receita — subvenção oficial, venda de ingressos para a Avenida e transmissão do carnaval pela TV, além de eventos ao longo do ano —, as agremiações apostaram na força de suas marcas e no seu potencial junto ao público torcedor.
As novidades vão desde a entrada no mercado de telefonia pré-paga, com venda de chips personalizados, até o lançamento de time de futebol, passando pela expansão da venda de produtos próprios através plataformas on-line visando atingir fãs além dos limites do Rio.
"As escolas precisam se reinventar para não dependerem de recursos públicos. A ideia é fortalecer a marca do Império Serrano para ser autossustentável", defende Sandro Avelar, presidente da Verde e Branca, que terça-feira, na live dos 74 anos da escola, anunciará seu time de futebol.
O clube, já está inscrito na Federação de Futebol do Estado, vai entrar na disputa pela terceira divisão do Campeonato Carioca. A equipe ainda está em formação, mas uma universidade já teria mostrado interesse em patrocinar, e cinco cotas de patrocínio nas camisas serão negociadas.
O novo clube pretende buscar atletas no próprio quintal, através de peneiras em Madureira e adjacências, mas não descarta contratações de nome de fora.
O Império lança também na terça e começa a vender no fim do mês o seu chip pré-pago para telefone celular, mercado que está sendo desbravado com pioneirismo no mundo do samba pela Mangueira. Tanto no Império quanto na Verde e Rosa, a venda do chip e da recarga terão parte dos lucros revertidos para as escolas.
A iniciativa da Mangueira é anterior à pandemia, mas ganhou força com ela. O chip Fala Mangueira, com tiragem inicial de 2 mil unidades, já é vendido nos sites mangueira.com.br e falamangueira.com.br e em vários pontos de vendas espalhados pelo Rio e cidades fora do estado, como Belo Horizonte e São Paulo.
"Desde que o presidente Elias (Riche) me convidou (para o cargo), apresentei a proposta. Nem existia pandemia ainda. Ele aceitou a ideia de trabalharmos nesses novos negócios. Um deles foi ter um chip personalizado", explicou Célia Domingues, diretora comercial da Mangueira.
O chip, que vem com cartão de benefícios, como descontos em compras e serviços, é vendido a R$ 10, com pacotes de recarga a partir de R$ 25. A escola ficará com 8% das vendas.
"E está dando oportunidade de renda na comunidade, já que alguns moradores receberam treinamento para atuar nos pontos de vendas espalhados pela Mangueira", disse Renan Oliveira, segundo mestre-sala da escola.
Plataformas para venda de produtos
No começo do mês, quando comemorou seus 68 anos, o Salgueiro lançou o mascote Sabiá. Homenagem ao presidente de honra da agremiação, Djalma de Oliveira Costa, o Djalma Sabiá, a ave de pelúcia será vendida por R$ 159,90 e estará atrelada às estratégias de marketing da Vermelho e Branca. Uma delas é a plataforma on-line para expandir as vendas de produtos para além do Rio e até do país.
"Esse período de pandemia obrigou que a gente buscasse alternativas. Não diria nem de rentabilidade, mas de se reinventar como produto. A gente não poderia passar esse período sem fazer algo que mostrasse a essência da escola e a inovação que o Salgueiro busca", afirmou Nelson de Andrade, diretor de marketing da escola.
O mesmo está fazendo a Beija-Flor de Nilópolis, que recorre à memória afetiva dos torcedores com coleções temáticas de camisetas, bonés e outros produtos com referência a enredos emblemáticos vendidas na internet. Um link no Instagram da escola (@beijafloroficial) direciona para a plataforma.
"A escola é uma das que têm mais torcedores e fã clubes espalhados pelo país, assim como Mangueira e Portela. A loja física atende a quem mora no Rio e frequenta a quadra, mas o e-comerce é a melhor maneira de quem é apaixonado pela agremiação ficar mais perto dela e ajudá-la a se manter e a manter o seu pessoal", diz André Rodrigues, integrante da equipe criativa da escola.
A Mocidade Independente de Padre Miguel também planeja o licenciamento de produtos de sua marca.
Parceria com grife de roupas
A Mangueira também fechou uma parceria com a grife Reserva que, pouco antes do carnaval, lançou coleção de camisetas com 13 estampas inspiradas na Verde e Rosa, um modelo de tênis nas cores da escola e uma coleção infantil. A campanha usou imagens de componentes da escola, como casais de mestre-sala e porta-bandeira, rainha de bateria, diretor de bateria, intérprete e um casal da Velha Guarda. O lucro das vendas nas lojas será doado para a escola.
"Não tem previsão de retorno (financeiro) ainda, porque é um produto novo dentro de uma escola de samba e a gente não tem como mensurar, pois tem de haver adesão. Mas acreditamos que vai ajudar muito a Mangueira a fazer sua manutenção mensal, com suas despesas fixas, para a gente manter alguns compromissos de quadra e barracão", afirmou Célia.
A escola deixou de faturar R$ 900 mil durante a pandemia, com o fechamento da quadra e suspensão dos shows. Os custos fixos com manutenção ficam em torno de R$ 112 mil, sendo que a maior parte deste valor é para pagamento de pessoal e custos da quadra e do barracão.