Intervenção de Bolsonaro assusta mercado e Petrobras perde valor; entenda queda

Nesta segunda-feira (22), ações da estatal caem acima de 20% após anúncio de troca no comando

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Petrobras tem queda expressiva nesta segunda-feira após intervenção política de Bolsonaro

Após o presidente Jair Bolsonaro interferir na Petrobras e anunciar a troca de comando da estatal por conta da política de preços dos combustíveis, indicando o general Joaquim Silva e Luna para o lugar do economista liberal Roberto Castello Branco , o mercado, como esperado, reagiu mal. Nesta segunda-feira (22), o temor por novas interferências, o silêncio do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o rumo menos liberal que o esperado do governo Bolsonaro fazem a Bolsa brasileira, a B3, cair com força, puxada justamente pela queda da Petrobras, que supera os 20% .

O mercado financeiro não gostou da intervenção política do presidente, que sinaliza possiveis novas interferências. Após o preço dos combustíveis, Bolsonaro mira agora o setor de energia elétrica . De olho nessa movimentação e seguindo a tendência do Ibovespa, as ações da Eletrobras também perdem valor nesta segunda, caindo mais de 4,5%.

Para Silvio Azevedo, consultor e educador financeiro, o que faz a Bolsa cair com tanta força é a "incerteza relacionada aos riscos da autonomia da estatal para sua política de preço. Em outras palavras, governo intervir politicamente na precificação. Além disto, o índice Bovespa hoje possui uma correlação direta de quase 10% das ações da petro [ação da Petrobras], então a queda acentuada da empresa, derruba junto à empresa". Diretamente, a queda da estatal petroleira derruba o mercado, além do otimismo sair de cena dando lugar ao medo de uma política econômica intervencionista.

"As ações neste caso estão caindo muito por falas ambíguas do presidente, e uma forte incerteza sobre como será feito o comando da organização. O mercado reage com medo de uma "estatização" e uma interferência direta na precificação do produto, que pode vir a gerar prejuízo", explica o consultor e educador financeiro.

Silvio também explica por que outras estatais também são afetadas e perdem muito valor nesta segunda de queda na Bolsa: " Eletrobrás , Banco do Brasil e petro, independente do governo, sempre vão balançar com ingerências ou atitudes políticas à frente da gestão de empresas que são estatais mistas. O mercado teme sim que Bolsonaro interfira de novo, e teme também o silêncio do Guedes".

Mercado em forte queda: é hora de aproveitar e investir?

"Já ouviram falar das compras de oportunidade? O mercado as vezes é benevolente para aqueles que estão capitalizados e dispostos a pensar no longo prazo", sugere Silvio Azevedo. Para ele, "ações sempre devem ser tratadas como longo prazo. A Petrobras é um empresa gigante, então quem quer pensar em longo prazo , e tem reserva de emergência bem definida, pode cogitar comprar petro sim". O consultor e educador financeiro pontua, por outro lado, que "isso não é uma recomendação de compra".

Diante do atual cenário, Silvio explica que "os investimentos em bolsa sofrerão oscilações, pela nomeação [de um general para a presidência da Petrobras], pela incerteza, e por motivos internacionais também. Se o investidor quer comprar "ações" e não ter oscilação, ele está investindo nos papéis errados. Toda e qualquer nomeação política que foge a regra técnica, irá refletir negativamente", garante.

Às 14h25 desta segunda, o Ibovespa cai 4,77%, aos 112.776 pontos, após recuperar perda ainda maior registrada pela manhã. A Petrobras cai 20,6%.

** Gabriel Guedes é editor de Brasil Econômico e Tecnologia do iG. Começou no Portal como estagiário, na semana do primeiro turno das eleições de 2018. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, tem passagem pela Rádio Gazeta Online, antiga Gazeta AM.