Confiança da indústria sobe pelo 8º mês e atinge maior nível desde 2010, diz FGV

Após fundo do poço em abril, índice indica que setor está em 'conjuntura favorável', segundo especialista. Por outro lado, estoques ainda estão baixos

Confiança da indústria cresceu pelo oitavo mês seguido em dezembro, atingindo maior patamar desde 2010
Foto: Christiano Diehl Neto/Agência O Globo
Confiança da indústria cresceu pelo oitavo mês seguido em dezembro, atingindo maior patamar desde 2010

A confiança da indústria voltou a subir em dezembro, na oitava alta seguida, e atingiu o maior patamar desde maio de 2010. Segundo dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta segunda-feira (28), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) avançou 1,8 ponto neste mês, somando 114,9 pontos. Em maio de 2010, o índice marcou 116,1 pontos.

O índice que mede a confiança da indústria  encerrou o quarto trimestre com média de 113,1 pontos, 14,7 pontos a mais do que a média do terceiro trimestre (98,4 pontos), acrescentou a FGV.

"O Índice de Confiança da Indústria de Transformação encerra o ano com um desempenho surpreendente e muito expressivo. Após atingir o fundo do poço em abril, a recuperação da confiança, impulsionada pelos Bens Intermediários, indica que o setor esteja em uma conjuntura favorável, com aceleração da demanda e estoques ainda em nível considerado baixo", afirmou Renata de Mello Franco, economista do Ibre/FGV.

De acordo com o levantamento, 12 dos 19 segmentos industriais pesquisados registraram aumento da confiança na leitura de dezembro, e 17 se encontram em nível acima de fevereiro deste ano, antes da pandemia.

Neste mês, houve melhora das avaliações dos empresários em relação à situação corrente e das expectativas mais otimistas para os próximos três e seis meses. O Índice de Situação Atual (ISA) e Índice de Expectativas (IE) avançaram 1,7 ponto, para 119,9 pontos e 109,6 pontos, respectivamente.

Como o resultado de dezembro, o ISA atingiu o maior valor da série histórica e o IE alcançou o maior patamar desde 2011.

O Nível de Utilização da Capacidade Instalada cedeu 0,4 ponto percentual, para 79,3%. Apesar do resultado negativo pelo segundo mês, a média do NUCI do quarto trimestre (79,6%) ficou 4,3 p.p. acima da média do terceiro trimestre (75,3%).

De acordo com a economista do Ibre/FGV, o resultado de dezembro, apesar de positivo, confirma a tendência de desaceleração das taxas de crescimento dos indicadores tanto de momento atual quanto das perspectivas futuras.

"Apesar das expectativas em geral indicarem otimismo, a incerteza elevada, a falta de matérias primas, a elevação de preços e a cautela dos consumidores têm deixado os empresários cautelosos em relação ao segundo trimestre", acrescentou Renata.

Indústria perde o fôlego

A indústria brasileira vem perdendo fôlego e começou a mostrar sinais de acomodação. Depois da queda acentuada no início da pandemia e recuperação entre maio e julho, em outubro, o setor avançou 1,1% na comparação com setembro, puxado pela indústria automotiva, segundo o IBGE.

Foi a sexta alta consecutiva que levou o índice da indústria a ficar acima do patamar de fevereiro. Em setembro, a indústria já havia conseguido zerar as perdas da pandemia . Por outro lado, no acumulado do ano, o indicador está em terreno negativo (-6,3%). Em 12 meses, a queda é de 5,6%.

Escassez de insumos

O crescimento da indústria foi freado pela escassez de matéria-prima e a alta dos preços dos indumos. Papelão, plástico, alumínio e vidro estão em falta nas linhas de produção, segurando a expansão de muitos segmentos no momento em que a demanda começa a ressurgir.

Segundo levantamento da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em novembro, 75% das indústrias de transformação no país enfrentaram dificuldades para conseguir insumos. E 54% delas tiveram problemas para atender os clientes.