Sem presente de Natal: 30% dos brasileiros vai usar 13º para pagar dívidas

Segunda parcela do 13º deve ser usada para pagar contas já existentes em ano de recorde no endividamento

13º deve ser destinado ao pagamento de dívidas
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
13º deve ser destinado ao pagamento de dívidas

No ano em que o endividamento das famílias atingiu o pico da série histórica do Banco Central, quase um terço dos recursos da segunda parcela do décimo terceiro (30,3%) recebida por parte da população deve ir direto para o pagamento de dívidas, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O pagamento da segunda parcela foi realizado pelos empregadores até o último dia 20, a quatro dias do Natal. O abono natalino, porém, não deve alavancar tanto o comércio como nos anos anteriores.

O pagamento do 13º aos aposentados e pensionistas foi antecipado, e terminou de ser pago em junho. Além disso, trabalhadores que tiveram contratos suspensos pelas empresas também receberão um valor menor de décimo terceiro neste ano.

Segundo a CNC, a injeção ano foi menor este ano. Em 2019, o montante pago na forma de 13º salário foi de R$ 216,2 bilhões na economia. Em 2020, serão R$ 211,3 bilhões.

Além da inserção menor na economia, o resultado do estudo indica que a renda da população ficou comprometida este ano, o que diminui a margem para gastos com bens (30,2%) e serviços (29,4%) e dificulta a poupança de recursos, em que apenas 10,1% do valor da segunda parcela do benefício deverá servir para gastos futuros.

Segundo dados do Banco Central , o endividamento das famílias atingiu 48,9% em agosto. É o maior patamar de endividamento desde o início da série histórica, em 2005.

"Houve um impacto na renda das famílias por conta da pandemia, e agora elas tendem a direcionar o décimo terceiro para dívidas porque o nível de endividamento foi alto", explica Fabio Bentes, economista-chefe da CNC, responsável pelo estudo.

Com parte do abono comprometido com o pagamento das contas atrasadas, o consumidor deve comprar menos presentes de Natal . E o varejo, que eliminou as perdas provocadas pela pandemia e cresceu 0,6% em novembro, segundo o IBGE, perde fôlego na reta final.

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De acordo com o CDLRio e o SindilojasRio, que juntos representam mais de 30 mil lojistas da cidade, o crescimento esperado de 3,5% não deve acontecer, já que os comerciantes ainda não sentiram o aumento das vendas. Entre os motivos estão o aumento de casos da Covid-19 , o desemprego alto e a queda na renda das famílias.

"As pessoas que não perderam o emprego têm medo de perder, e o comércio, que já não vinha bem, deve fechar as vendas do Natal no negativo esse ano".

Inadimplência deve subir no primeiro trimestre

A lenta retomada do mercado de trabalho em 2021, por conta das incertezas da Covid-19, somado ao fim do auxílio emergencial , devem fazer com que a inadimplência suba no primeiro trimestre. De acordo com a Serasa Experian, o número de inadimplentes foi de 61,9 milhões em novembro. É a terceira queda consecutiva, mas as incertezas expressas sobre o ano que vem pressionam.

"Ainda estamos tendo um grande movimento de renegociação das dívidas e isso tem a ver com o uso do auxílio emergencial para quitações e com a taxa de juros básica mais baixa".

Mas a recomposição do mercado de trabalho é o que dá sustentação para diminuir a inadimplência, porque se ficar só em cima da Selic emergencialmente baixa e da vigência de um auxílio, mesmo que desidratado no ano que vem, não resolve.

Na avaliação de Bentes, o consumo deve ser freado no primeiro trimestre de 2021. Apesar das taxas de juros baixas , ele pondera que os prazos estendidos para pagamento das contas deixa a renda das famílias comprometida por mais tempo.

"No curto prazo, as taxas de juros mais baixas suavizam as prestações, mas o prazo ampliado de pagamento deixa o orçamento das famílias comprometido por mais tempo. E se o endividamento está alto, uma hora ele não permitirá crédito. Chega uma hora em que o credor acaba exigindo uma garantia ou taxa maior para realização desse consumo, e isso acaba freando o consumo", sinaliza.