MPF pede intervenção judicial na Vale para garantir segurança de barragens

Ação pede que seja nomeado interventor para identificar diretores que deverão ser afastados. Vale diz que se manifestará "nos autos do processo"


Região atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho – MG
Foto: Isac Nóbrega/PR
Região atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho – MG



O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública, com pedido de liminar, para que seja determinada a intervenção judicial na Vale , uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo . A ação se refere apenas a diretores que exercem funções corporativas encarregadas da elaboração e implementação de planos e políticas de segurança interna da empresa.


A ação faz parte da Força-Tarefa Brumadinho , iniciada após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão , ocorrida em janeiro de 2019 e que deixou centenas de mortos. O desastre ocorreu depois da tragédia envolvendo a barragem de Fundão, em Mariana, em 2015, também em Minas Gerais.

Com a intervenção pedida pelo MPF, as ações da mineradora apresentavam queda de quase 3% esta manhã, puxando o Ibovespa para baixo.

Afastamento de diretores

O MPF quer que seja nomeado um interventor judicial para identificar, em até 15 dias, os diretores e demais gestores da alta administração da empresa que deverão ser afastados de seus cargos, a fim de possibilitar que o interventor assuma todos os trabalhos atinentes a sua atividade.

Em comunicado, o Ministério Público pede que esse interventor elabore um plano de trabalho de reestruturação da governança da mineradora, que deve incluir metas de curto, médio e longo prazos.

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A Procuradoria também pede que seja explicitada a metodologia de trabalho que "deverá seguir padrões internacionalmente reconhecidos em termos de medidas preventivas de desastres , de transparência, responsabilidade".

Segundo o MPF, a Vale desenvolveu uma "cultura interna de menosprezo aos riscos ambientais e humanos, na qual se apropria dos lucros de suas operações".

Também foi pedido que a Vale contrate uma empresa de auditoria independente , preferencialmente entre as quatro maiores do mundo, que ficará responsável por auditar a nova governança implementada. Esses relatórios deverão ser submetidos ao MPF, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Agência Nacional de Mineração (ANM).

A ação cita que o acidente envolvendo as duas barragens ocorreram “em razão do descompromisso da Vale com a segurança de barragens de rejeitos e, consequentemente, com o meio ambiente e a vida, romperam-se e causaram, num curto espaço de tempo entre elas, os dois maiores desastres sociotécnicos do Brasil”.

A ação pede ainda que seja suspensa a distribuição de dividendos ou juros sobre o capital próprio até que o interventor ateste a plena colaboração da empresa com as medidas de intervenção.

O que diz a Vale

A empresa informa que tomou conhecimento da ação por meio da imprensa. Em nota, a  Vale esclarece que as atuais práticas de gestão de suas estruturas minerárias refletem as melhores referências globais do setor.

"Em linha com o contínuo aprimoramento dessas práticas, conforme o seu desenvolvimento no mercado, a Vale implementou mudanças ao longo dos últimos 18 meses para fortalecer ainda mais a segurança de seus processos operacionais e de gestão de suas estruturas geotécnicas", disse a mineradora.

A empresa destaca uma série de iniciativas feitas ao longo do último ano como a criação de três Comitês Independentes de Assessoramento Extraordinários do Conselho de Administração e a instalação do Comitê de Auditoria e da Diretoria de Compliance para reforçar a governança de riscos e controle.

A empresa diz que antecipou o plano de descaracterização das estruturas a montante e criou a função de Engenheiro de Registro na figura de empresas externas responsáveis por realizar a inspeção regular de segurança das barragens da companhia e os relatórios técnicos mensais, em linha com as recomendações da Mining Association of Canada (MAC), pela Canadian Dam Association (CDA) e pelo Comitê Independente de Assessoramento Extraordinário de Apuração.

A Vale diz ainda que iniciou a construção de novas estruturas de contenção nas barragens e nova análise técnica do histórico e das condições atuais de todas as suas barragens. Destacou ainda que aumentou os investimentos em gestão de barragens e implementação de um novo "Sistema de Gestão de Rejeitos", com base nos padrões internacionais do International Council on Mining and Metals (ICMM).