Maia rompe com Guedes e só conversa com técnicos do Ministério da Economia

Presidente da Câmara promete retomar discussão da reforma tributária na semana que vem 'independentemente' de proposta do governo

Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que não fala mais com Paulo Guedes e diálogo econômico está restrito aos técnicos da Economia
Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, disse que não fala mais com Paulo Guedes e diálogo econômico está restrito aos técnicos da Economia

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira (9) que "não tem conversado" com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que seu diálogo com a equipe econômica está restrito aos técnicos. Ele prometeu iniciar a discussão da  reforma tributária na próxima semana "independentemente" de iniciativa do governo.

Ao participar de um evento on-line do banco BTG Pactual, Maia afirmou que, mesmo tendo tomado a iniciativa de uma reaproximação, não conversa com o ministro desde a tramitação do projeto de  socorro a estados e municípios por causa da crise do novo coronavírus (Sars-Cov-2).

"Eu tenho conversado com os técnicos, não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes . Inclusive, a pedido de alguns, há um tempo fiz um gesto, mas o ministro não teve interesse. Então, para mim, não faz a menor diferença conversar ou não com Paulo Guedes", afirmou Maia.

E continuou:

"Para mim, faz diferença conversar com os técnicos, porque baseado nos dados concretos posso ajudar o Congresso e a Câmara a tomar as melhores decisões em relação aos projetos, principalmente aqueles que têm impacto fiscal".

O presidente da Câmara afirmou que o Legislativo retomará a discussão da  reforma tributária  na próxima semana "independentemente" de haver ou não uma proposta do governo sobre o tema.

Na semana passada, Guedes disse que a proposta de reforma do governo está "absolutamente pronta", mas o texto ainda não foi enviado aos parlamentares.

Para Maia, Guedes foi 'agressivo'

Ao ser perguntado sobre o relacionamento com o ministro, Maia argumentou que Guedes foi "agressivo" com a Câmara.

Ele indicou que Guedes não quis estender a mão para uma reaproximação, para a qual teria tomado a iniciativa "a pedido de alguns", e disse que Guedes não se interessou.

O presidente da Câmara ainda criticou a falta de iniciativa do governo na agenda de reformas e classificou como difícil de se realizar a promessa de Guedes de privatizar quatro estatais em 90 dias .

Maia repetiu acreditar que o Congresso terá maioria para derrubar o  veto do presidente Jair Bolsonaro à prorrogação da desoneração da folha de pagamento de empresas de 17 setores como calçados, têxteis, comunicação, construção civil e transportes rodoviários.

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Argumentou que o fim do benefício agora  poderia agravar ainda mais o desemprego num momento em que a economia tenta reagir. Ele criticou o argumento do governo de que seria renúncia fiscal. Afirmou que o custo de R$ 10 bilhões será alocado no Orçamento do próximo ano.

Tributária, a principal reforma

Quando questionado sobre a reforma tributária, o deputado disse considerá-la a mais importante para o Legislativo.

Maia afirmou que o tema é "prioridade", mas  reiterou sua posição contrária à criação de impostos que possam se parecer com uma nova CPMF para compensar a renúncia fiscal. Guedes cogita um imposto sobre pagamentos e transações digitais .

"A Câmara vai retomar esse debate a partir da próxima semana. Eu já avisei ao presidente do Congresso (Davi Alcolumbre), nós temos uma comissão mista (de deputados e senadores para debater a reforma). Eu espero que ele possa autorizar a retomada do debate na comissão mista. Mas, se isso não acontecer, a Câmara vai recomeçar esse debate (em comissão apenas de deputados), disse Maia, que acrescentou: "(Vamos debater) independentemente do governo".

Além de apontar para a demora do governo no envio de um texto para a reforma tributária, o deputado criticou a falta de ação do governo em outros temas, como a reforma administrativa e a discussão sobre a ampliação do auxílio emergencial.

Ele avisou que haverá pressão para prorrogação do benefício de R$ 600 por mais tempo, além das duas ou três parcelas adicionais negociadas pelo governo:

"O governo precisa parar de fazer discurso sobre Renda Brasil e apresentar o projeto (sobre renda mínima) (...) Se o governo deixar tudo pra última hora, é claro que a pressão sobre deputados e deputadas, sociedade e senadores, será grande por mais algum período de R$ 600 reais", disse.

Terreno difícil para privatizações

Sobre o plano do governo de acelerar privatizações , Maia disse defender a venda da Eletrobras, mas deixou claro que será difícil passar no Legislativo qualquer proposta nesse sentido agora:

"O Senado deixou claro ano passado que era contra. O governo pensou num novo modelo, mas acho que o adiamento das eleições pode nos tirar condições de aprovar privatizações na Câmara dos Deputados. Isso sempre tem um impacto porque os funcionários ficam pressionando", analisou Maia.

Ele continuou, referindo-se à afirmação de Guedes de que pretende vender quatro estatais em três meses:

"A minha sensibilidade é que não será simples perto da eleição, muito menos quando você joga a eleição mais pra frente. E aí fica difícil avançar com a alguma privatização. Passando pelo Parlamento eu acho difícil. Isso (a aprovação no Congresso) em 90 dias me parece um otimismo excessivo em relação a quatro privatizações".