Sul e Sudeste sofrem mais com crise da pandemia que outras regiões
Segundo relatório do BC, regiões Norte e Centro-Oeste apresentam os menores impactos graças à pecuária
As regiões Sudeste e Sul devem sofrer mais efeitos da crise do coronavírus, aponta o Boletim Regional do Banco Central (BC) divulgado nesta quinta-feira (30). Isso porque as economias do sul e sudeste são mais ligadas à indústria e ao comércio. Por outro lado, Centro-Oeste e Norte têm impacto mais moderado por conta da agropecuária. Nordeste crescia nos dois primeiros meses do ano, mas agora tem contração.
O documento divulgado trimestralmente é baseado em dados dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, antes do impacto mais intenso do coronavírus no país.
Segundo o boletim, o cenário de incerteza causado pela pandemia provoca “desaceleração significativa” da atividade econômica e impacto em todas as regiões do país, mas com diferenças por conta das estruturas produtivas de cada uma.
O BC ressalta que as economias do Sul e do Sudeste devem sofrer mais impactos da crise por conta de um setor de indústria de transformação mais representativa.
No caso do Sudeste, a produção industrial já estava em queda antes da crise, situação que deve se acentuar nos próximos meses.
"A atividade fabril na região, que já mostrava pouca robustez no início do ano, deve repercutir significativamente os efeitos da pandemia, movimento antecipado pelas pesquisas de confiança empresarial".
No Sul, a situação da indústria é parecida, com queda na confiança empresarial e na demanda de produtos. Os efeitos negativos são parcialmente compensados pela produção de grãos, que deve ser menos afetada, segundo o BC.
"O cenário mostra-se desafiador, externamente, pela redução da economia global, com impacto negativo sobre a demanda de produtos exportados pela região, e, internamente, pela combinação de choque de oferta – redução da produção e das condições de distribuição – e de demanda – redução da renda, além dos efeitos imediatos decorrentes da restrição à circulação".
Centro-Oeste, Norte e Nordeste
Em meio à pandemia de covid-19, a contração da economia do Centro-Oeste
será menos severa
do que em outras regiões do Brasil. Isso deve ocorrer devido à maior participação do agronegócio
e pela estrutura industrial na região. A conclusão é do Banco Central (BC), que divulgou hoje (30) o Boletim Regional, com análise do desempenho da atividade econômica por região do país.
Segundo o BC, o Centro-Oeste e o Norte devem ser menos afetados pela crise por conta da estrutura produtiva das regiões.
Anteriormente à crise, a região Centro-Oeste se destacava por conta do agronegócio e é o desempenho desse setor que deve mitigar os efeitos da crise e dar uma "contração mais moderada" em comparação ao nível nacional.
Apesar de sofrer com efeitos expressivos da pandemia, o Norte registrou crescimento, em março, da produção de grãos, como a soja e o milho.
Além disso, a abrangência do auxílio emergencial de R$ 600 também deve auxiliar na mitigação dos efeitos na economia da região. A situação é parecida com a do Nordeste, que estava em recuperação gradual da economia nos primeiros meses do ano até sentir os efeitos da pandemia.
De acordo com o boletim, nos dois primeiro meses do ano, a atividade econômica no Nordeste foi beneficiada pela evolução favorável da indústria e do crédito, contribuindo para a continuidade do processo de recuperação gradual.
“Essa recuperação, no entanto, deve ser interrompida pelos impactos da pandemia, como demonstram a evolução de dados mais tempestivos. A expectativa de crescimento significativo da safra de grãos na região, segmento que deverá ter impacto bastante reduzido pela pandemia, e as ações governamentais de garantia de renda para os mais desfavorecidos são fatores que contribuem para minimizar os efeitos negativos da covid-19”, destacou o BC.
Indústria e agro
Depois da indústria registrar um recuo de 0,7% no trimestre encerrado em fevereiro, o BC ressalta um efeito grande da pandemia para o setor.
"A deterioração da confiança de forma expressiva e generalizada sinaliza que a indústria está sendo severamente impactada pelos efeitos da COVID-19 em todas as regiões"
Pesquisa feita pela CNI aponta pessimismo entre empresários, com índice de confiança chegando no menor patamar histórico.
Segundo o BC, pessimismo menor na indústria extrativa do que na de transformação aponta para efeitos menos intensos no setor.
O Banco Central prevê que o setor agropecuário sofrerá menos com os efeitos da crise. A estimativa de produção de grãos, como soja e milho, é 1,5% maior neste ano do que em 2019.
O boletim aponta uma queda de demanda, principalmente puxada pela diminuição de compras de bares, restaurantes, hotéis e escolas. Em um ponto positivo, a compra de insumos para as lavouras aconteceu antes da crise.
No entanto, o estudo destaca possíveis problemas no escoamento e na estocagem da produção.
"Dificuldades no escoamento e nos custos do frete tendem a afetar de forma mais intensa a produção de produtos in natura, em decorrência da sua característica de consumo rápido e prazo de validade curto".
Consumo
Dados do Banco Central apontam para um efeito imediato no consumo das famílias. As compras com cartão de débito recuaram 27,2% na comparação entre as duas primeiras semanas de abril com o mesmo período de março.
Segundo o BC, esse comportamento se repetiu em todas as regiões do país, com forte redução no Nordeste, de 31% e no Sudeste, de 29,6%.
Os principais setores afetados foram o de comércio de vestuário e calçados, com retração de 88,8%, de serviços de alojamento e alimentação, com 72,1% e pessoais, com 69,9%.
Por outro lado, os dados apontaram para um crescimento de 17,1% nas vendas de mercados. O BC aponta que a causa pode ser uma “compra preventiva” de alimentos.