Desinformação e erros no sistema aumentam filas nas agências da Caixa
Idosos relatam dificuldade de acessar o procedimento para receber o auxílio e vão as agências durante pandemia
Por Agência O Globo |
Um levantamento da Caixa apontou que apenas uma em cada cinco pessoas que buscaram as agências presencialmente na segunda-feira (27) tinha direito ao saque do auxílio emergencial na data.
Segundo o banco, as filas enormes – que voltaram a acontecer nas portas das unidades nesta terça-feira (28) – são formadas, em grande parte, por pessoas que não fazem parte do público alvo do atendimento presencial.
O público alvo são clientes em busca de serviços essenciais (como saque do seguro desemprego e Bolsa Família sem cartão, desbloqueio de senhas, etc) e o público beneficiário do saque do auxílio em espécie escalonado por data de nascimento.
"O banco reforça o pedido para que a população só se dirija às agências e casas lotéricas em último caso", diz a Caixa em nota divulgada nesta tarde.
O banco alega que o cronograma de saque do auxílio em espécie, entre os dias 27 de abril e 5 de maio, de acordo com o mês de nascimento, foi pensado exatamente para evitar a aglomeração de pessoas – o que não é recomendável por causa da pandemia da Covid-19.
Essas pessoas tiveram o valor creditado na conta poupança digital, com possibilidade de movimentar os recursos, fazer transferências para outras contas e pagar despesas pelo aplicativo Caixa Tem.
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Mas o aplicativo apresentou problemas de estabilidade constantes por causa no número excessivo de acessos. Segundo a Caixa, inclusive por quem não recebeu o crédito em poupança digital, a quem o app é dedicado.
“O banco tem envidado todos os esforços para otimizar e acelerar o atendimento em seus canais físicos e digitais", diz a nota.
Desinformação
Nesta terça-feira, Antonio da Silva, de 56 anos, saiu de casa com a esposa Valderice, de 60, ainda no fim da madrugada, rumo a uma agência da Caixa Econômica Federal, em Niterói. Eles garantem estar respeitando a recomendação de isolamento para frear o avanço da doença no Brasil, mas consideraram o caso uma emergência.
De máscaras, esperaram desde às 5h na porta do banco, para fazerem suas inscrições para o recebimento do auxílio emergencial, um procedimento que deveriam ter cumprido pela internet, mas não sabiam.
— Eu trabalhava de jardineiro, mas fiquei desempregado há seis meses. E ela era empregada doméstica, mas está desempregada há dois anos. Estávamos sobrevivendo de bicos como servente, ajudante de pedreiro... mas isso também parou por conta do coronavírus. Então eu preciso desse dinheiro para comprar feijão e macarrão — contou ele, que voltou com o endereço virtual para se candidatar ao benefício anotado por uma funcionária do banco.
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A microempreendedora Deise de Souza, de 54 anos, também foi levada por um engano à fila de uma agência da Caixa no Centro do Rio, nesta terça-feira.
— Eu me inscrevi pelo aplicativo da Caixa para receber o auxílio, mas após análise, recebi o comunicado de que não estava apta. Descobri que isso ocorreu porque fui casada, mas nunca troquei minha documentação. Estavam todos os meus documentos no nome de solteira. Então tentei pedir um novo documento no site da Receita, mas fui informada de que esse caso só poderia ser resolvido presencialmente. Hoje, fiz isso: fui até o prédio do centro da cidade. Ao chegar, porém, um funcionário disse que não havia atendimento ao público e me recomendou buscar ajuda na Caixa Econômica. Fiquei horas na fila e lá também disseram que não podiam me ajudar — lamenta ela, que agora pretende tentar retirar o novo documento pelos Correios.
Dona de um barraca que vende churrasco na Lapa, Deise está sem renda há cerca de um mês e meio e contando com a ajuda de uma filha, de 29 anos e que não mora com ela, para sobreviver.