"Crise não é pretexto para contratos serem rasgados", diz presidente de banco
Sergio Rial, presidente do Banco Santander, afirmou que pandemia do Covid-19 será um chamamento à civilidade
Por Agência O Globo | | |
O presidente do Santander Brasil, Sergio Rial , fez um apelo para que a crise trazida pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) não seja um pretexto para que as pessoas 'rasguem contratos ou judicializem ainda mais o Brasil'.
Rial afirmou que é preciso que as pessoas tenham capacidade de resolver os conflitos através do diálogo, apelou para que as empresas que puderem não façam demissões e disse que tem certeza que a velocidade que os recursos disponibilizados pelos bancos estão chegando a quem precisa não é a ideal. Mas ponderou que o sistema financeiro está disposto a ouvir as queixas e corrigir os erros.
— A crise traz um chamamento à civilidade. É preciso ter solidariedade e não judicializar mais o Brasil. O país tem uma oportunidade de exercitar o diálogo e diminuir os conflitos - afirmou o presidente do Santander Brasil, durante live promovida pelo banco em que foi entrevistado pela economista Ana Paula Vescovi, que lidera a área de macroeconomia da instituição.
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Rial afirmou que a crise traz um aprendizado ao país no sentido de que poupar é importante. Nações com melhor situação fiscal têm um colchão financeiro para enfrentar a crise. Ele afirmou que, neste século, a expectativa é que haja crises mais frequentes, e, no caso do Brasil, o país estará no pós-crise muito pior do que estava antes. Ele disse que as reformas estruturais, que já eram importantes antes da crise para ajustar as contas públicas, agora são vitais para as próximas gerações.
— Haverá uma conta a ser paga e a sociedade precisa começar a discutir como endereçar essa conta - afirmou.
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Para o presidente do Santander, a palavra "guerra", que vem sendo utilizada neste momento em que medidas emergenciais estão sendo tomadas pelo governo para socorrer os setores mais fragilizados da sociedade, traz um risco porque abre a perspectiva de que tudo é permitido.
— Não estamos em guerra. Temos uma situação de saúde pública que os organismos internacionais não foram capazes de prever. Por trás da palavra guerra, tudo se justifica. Por isso, é preciso ter cuidado. Há justificativa para aumentar gastos para salvar vidas, mas não para quebra de contratos - observou.
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Ele disse que números da Febraban, federação que representa os bancos, mostram que houve oferta de R$ 390 bilhões em crédito dos bancos no primeiro trimestre do ano, frente a menos de R$ 300 bilhões no mesmo período do ano passado. Segundo ele, 20 anos atrás, os bancos não teriam capacidade de mobilizar essa capacidade de recursos. Ele afirmou que tem certeza que os recursos não chegam na velocidade desejada a quem precisa, mas é preciso que as pessoas se manifestem.
— Os bancos estão dispostos s renegociar dívidas e as pessoas e empresas vão ter resposta. Mandem emails, usem as redes sociais. Vamos ouvir as queixas e chegar até quem precisa - garantiu.
Rial disse que levar conflitos à Justiça neste momento vai atrasar a recuperação econômica do país, além de ter custos elevados. Ele defendeu que lojistas e shoppings conversem neste momento e encontrem uma resposta a quem não tem faturamento momentaneamente.
—A judicialização pode gerar uma paralisação ainda maior da retomada da economia, com problemas que poderiam ser resolvidos dialogando.
Ral afirmou que o Brasil não tem condições de ajudar a todos os setores que estão em crise neste momento, como aviação, turismo, indústria automobilística. Mas que estão sendo discutidas soluções entre o poder público e privado. No caso das aéreas, por exemplo, estuda-se um saída pelo mercado de capitais, com o lançamento de debêntures conversíveis em ações. Para o setor automotivo, que gera muitos empregos e segmento que o Santander atua fortemente, a ideia é oferecer ativos locais como garantia de dívida.
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Com matriz espanhola, Rial disse que a situação econômica da Europa é dramática e que as previsões mostram que a economia espanhola pode encolher 8% este ano, com taxa de desemprego chegando a 20% em alguns países na região.
Rial afirmou que se há pontos positivos da pandemia, entre eles está a volta da ciência como protagonista, além do uso da tecnologia como forma de melhorar a produtividade das empresas.
— O Covid-19 vai trazer mudanças comportamentais, inclusive a hábitos de higiene quando entrarmos numa agência bancária ou sentarmos na poltrona de um avião. Também pode ajudar as pessoas a pensar que a falta de saneamento no país não é um tema político, mas é um tema essencial e que o Congresso vai responder aos apelos da sociedade, não de maneira ideológica - afirmou.