Empresas estrangeiras e chinesas tentam se precaver contra o coronavírus
Entre montadoras, gigantes de tecnologia, restaurantes e bancos, as medidas vão desde o fechamento de lojas até evacuação de pessoal
PEQUIM - A ameaça representada pelo surto do coronavírus para a economia chinesa fez com que companhias multinacionais e locais tomassem providências drásticas para evitar que a doença se espalhe ainda mais. Ela já matou 81 pessoas. O número total de casos confirmados nesta segunda-feira (27) saltou cerca de 30% para mais de 2.700.
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Grandes montadoras automotivas internacionais,
como as japonesas Nissan e Honda e as francesas PSA (leia-se Peugeot e Citröen) e Renault anunciaram estar se preparando para tirar suas equipes de fábricas nas partes do país afetadas pelo vírus.
Outras companhias multinacionais estão evacuando trabalhadores das regiões afetadas
e interrompendo operações, como linhas aéreas, lojas de varejo, redes de restaurantes, parques temáticos e cinemas, buscando limitar a disseminação do vírus.
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A Royal Caribbean
suspendeu todos os cruzeiros saindo da China de 25 de janeiro até 4 de fevereiro. A Delta Airlines
permite aos clientes de passagem por Pequim e Xangai a trocar o voo uma vez sem custo. McDonald´s e Starbucks
fecharam algumas lojas na região afetada — o primeiro tem mais de 3 mil lojas no país, e o segundo, mais de 4 mil.
A Disney anunciou ter fechado seu parque em Xangai no dia 25. A Ikea afirmou ter fechado seu depósito em Wuhan.
Trabalho remoto
Gigantes corporativas chinesas, incluindo o Alibaba Group Holding e a Tencent Holdings, disseram ter pedido a suas equipes que trabalhem de casa por uma semana após o término do feriado prolongado do Ano Novo Lunar, buscando limitar a propagação de um novo vírus semelhante à gripe.
O Alibaba disse que a medida se aplica a todas as suas divisões, incluindo trabalhadores em Hong Kong, Taiwan e Macau, bem como na China continental. A empresa emprega mais de 100 mil pessoas em todo o mundo, a maioria delas na China.
O centro industrial de Suzhou, onde ficam fábricas da Foxconn, fornecedora de iPhones para a Apple, adiou o retorno de milhões de trabalhadores migrantes em mais de uma semana. As empresas situadas no centro industrial receberam a ordem de permanecer fechadas até pelo menos 8 de fevereiro.
E Xangai, a capital financeira do país, determinou que as empresas não abram suas portas até o próximo dia 9 de fevereiro.
O governo chinês prolongou o feriado do Ano Novo Lunar até 2 de fevereiro.
Funcionários a distância
Bancos internacionais, que vêm expandido fortemente sua presença na China, estão mantendo a distância empregados que possam ter sido expostos à doença. O Credit Suisse enviou um memorando a seus funcionários em Hong Kong instruindo-os a ficar longe de sua sede regional se tiverem visitado a China continental nas últimas duas semanas.
Lee Hardman, analista de finanças no banco japonês MUFG, afirmou ao Financial Times que o vírus se tornou um tremendo revés para economia e a indústria globais, que vinham mostrando sinais de recuperação nos últimos meses.
Impacto na conjuntura global
Muitos analistas estão lembrando o que ocorreu durante o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), um coronavírus que se originou na China e matou quase 800 pessoas em todo o mundo em 2002 e 2003, para entender melhor os prováveis efeitos a longo prazo.
— A economia se recuperou rapidamente depois que a Sars desapareceu — recordou Larry Hu, da Macquarie Capital, em nota a clientes.
Desta vez, no entanto, analistas dizem que o aumento da dependência do consumo da China para impulsionar a segunda maior economia do mundo poderia minar o crescimento.
Atualmente, a China contribui bem mais para o crescimento econômico global do que há 17 anos, o que significa que qualquer grande impacto doméstico decorrente do vírus repercutirá em todo o mundo.
"Na China, durante 2019, o consumo contribuiu com cerca de 3,5 pontos percentuais para a taxa de crescimento real geral do PIB de 6,1%. Um cálculo posterior sugere que, se os gastos com esses serviços caíssem 10%, o crescimento geral do PIB cairia cerca de 1,2 ponto percentual", disseram analistas da S&P Global Ratings em nota.
Só para se ter uma ideia, a correria habitual do Ano Novo Lunar, envolvendo gastos com viagens, turismo e entretenimento já sendo muito prejudicada. O total de passageiros caiu quase 29% em relação ao ano anterior no primeiro dia do Ano Novo Lunar, disse uma autoridade do Ministério dos Transportes chinês.
À medida que as empresas se preparam para o vírus atingir os negócios, os reguladores financeiros da China disseram que estavam incentivando os bancos a baixar as taxas de empréstimos para setores fortemente afetados pelo surto.