Por que tensão entre EUA e Irã não chegou às bombas dos postos no País? Entenda

Passados 15 dias da morte do general Qassem Soleimani após ataque norte-americano, petróleo registrou alta, mas reflexo global foi abaixo do esperado

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Milhares de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre do general iraniano, assassinado após ataque norte-americano

Se por um lado a guerra comercial entre Estados Unidos e China determina os rumos das bolsas internacionais, a cotação do dólar no Brasil e afeta todo o mercado global, a tensão entre os norte-americanos e o Irã, que se acirrou após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani no Iraque , em 3 de janeiro, não chegou a afetar tanto a economia brasileira como o especulado. Mas por quê?

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Após o ataque dos EUA, as trocas de ameaças e o receio de uma nova Guerra Mundial, a expectativa era que o mercado brasileiro e global fosse sentir as repercussões e os impactos do conflito, especialmente no que diz respeito aos preços dos combustíveis . Na prática, porém, passados 15 dias, o impacto foi nulo ou quase.

Em outros tempos, uma situação desse tipo certamente afetaria em cheio o petróleo , repercutindo nos combustíveis e também nas bombas dos postos, com o repasse ao consumidor final.

Desde 3 de janeiro, data do ataque norte-americano, o único reajuste anunciado pela Petrobras, que começou a vigorar em 14 de janeiro, reduziu o preço da gasolina e do diesel nas refinarias em 3%. O último aumento de preço ocorreu, no caso do diesel, em 27 de dezembro (4%), e, no caso da gasolina (4%), um mês antes, em 27 de novembro.

André Alírio, Economista e Operador de Renda Fixa da Nova Futura, pontua que “a concentração de petróleo no mundo em poucas nações hoje é menor, o que reduz as consequências de choques de petróleo parecidos com o passado”, o que explica a variação menor do que a esperada nos combustíveis.

Como a concentração do óleo é menor do que em outros tempos no mundo, o risco de um novo choque com impactos severos para a economia global também foi reduzido, apesar de ainda haver repercussões e variações rápidas no preço.

Após o ataque norte-americano ao Irã , o petróleo chegou a subir mais de 4% rapidamente, revelando que ainda há impacto, mas este acabou sendo muito menor do que o esperado dada a magnitude do acontecimento.

Por outro lado, por mais que a alta não seja tão intensa quanto em outros tempos, a reação do mercado a um grande evento como esse é imediata e duradoura.

Segundo Fabrizio Gueratto, Financista do Canal 1Bilhão Educação Financeira, a tensão faz com que os investidores “busquem mais segurança, investindo em títulos do tesouro americano, por exemplo, o que eleva o valor do dólar . A subida dos preços, tanto na moeda americana quanto no comodities, pode ter efeitos diretos na nossa inflação”.

Gueratto aponta ainda que, caso haja novas tensões, pode ocorrer de o Banco Central precisar elevar as taxas de juros para conter a alta inflacionária, interrompendo o ciclo de corte nos juros. Atualmente, a taxa básica de juros da economia, a Selic , está no menor valor da história, 4,5%.

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A diminuição da tensão entre EUA e Irã nas últimas semanas, somada à assinatura da “fase 1” do acordo sino-americano que pode aproximar o fim da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, devem dar tranquilidade ao mercado global neste início de ano.

A tendência, segundo os analistas, também é de estabilidade para o petróleo.

** Gabriel Guedes é editor de Brasil Econômico e Tecnologia do iG. Começou no Portal como estagiário, na semana do primeiro turno das eleições de 2018. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, tem passagem pela Rádio Gazeta Online, antiga Gazeta AM.