A taxa de desemprego no País cresceu 81% entre 2014 e o ano passado. Com isso, houve uma queda na participação do trabalho no rendimento das famílias brasileiras .
Em 2009, esse percentual representava 61,1% do total dos rendimentos e, em 2018, 57,5%. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada nesta sexta-feira (4), pelo IBGE, com dados colhidos em 2018.
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Entre as famílias brasileiras
que ganham até dois salários mínimos — ou R$ 1.908 mensais —, a situação se agrava. Nelas, quase um quarto da renda (24,3%) veio de aposentadorias, pensões e programas sociais. Essa dependência chega a 28,8% quando se consideram todas as transferências levantadas pela pesquisa.
No mesmo grupo, 23,9% das famílias brasileiras ou 16,5 milhões de lares onde vivem 44,8 milhões de pessoas, 28,2% dos rendimentos eram não monetários , ou seja, vinham de doações, medicação retirada de serviços públicos, alimentos oriundos da agricultura de subsistência.
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Isso significa que apenas 41% da renda das famílias mais pobres veio do trabalho. Na outra ponta, entre as famílias que recebiam mais de 25 salários mínimos ou R$ 23.850, 60% desse total vinha do rendimento de trabalho, somente 12,8% eram oriundas de transferências e 7,9%, não monetário.
O gerente da pesquisa, André Martins, destacou que há diferenças em relação a origem dos valores recebidos de acordo com a classe de rendimento das famílias.
“Além do rendimento de trabalho, nas famílias de menores rendimento vemos também a importância das transferências e do rendimento não monetário, que complementa o orçamento familiar”, afirmou Martins.
Já nas famílias de maiores rendimentos, a importância do trabalho é maior, além da variação patrimonial. “Na variação patrimonial estão incluídos os saques de poupança e, em geral, as famílias de maiores rendimentos têm essa disponibilidade. E também vendas de imóveis e bens de valores mais altos, heranças”, disse André.
No topo
Quando se observam as famílias por classes de rendimento, apenas 2,7% das famílias se apropriam de 20% da média global do rendimento. Esse grupo recebia mais de R$23.850,00 (25 salários mínimos)e contribuiu com R$1.080,26 para média global de R$5.426,70.
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As famílias que recebiam até R$1.908,00 (dois salários mínimos) contribuíram com apenas 5,5% do valor médio recebido no Brasil. Ou seja, da média mensal global de R$5.426,70, apenas R$297,18 vêm deste grupo.
“Isso mostra como os extremos são desiguais na hora de colaborarem para rendimento médio mensal das famílias brasileiras”, concluiu André.
Por região
Em todas as regiões, o componente com a maior participação nos valores recebidos pelas famílias foi o rendimento do trabalho . As maiores participações do rendimento do trabalho foram registradas no Centro-Oeste (61,5%) e no Norte (61%). As menores foram registradas no Nordeste (52,6%).
“A gente também vê diferenças de contribuição das regiões para a formação do rendimento médio mensal familiar. A região Sudeste representa mais da metade dessa média, com 51,4%. Já a região Norte, com 4,9%, é a que menos contribui”, explicou André Martins
Os rendimentos de transferências e rendimento não monetário tiveram comportamentos distintos. Na região Nordeste, foi registrada a maior participação das transferências (24,6%) nos valores recebidos. Já a menor foi registrada no Centro-Oeste (14,3%).
No caso do rendimento não monetário, as regiões Nordeste e Norte tiveram participações acima da média nacional (15,7% e 15,6%) enquanto no Centro-Oeste a menor participação (12,8%). As regiões Sudeste e Sul ficaram próximas à média nacional (14,4% e 14,2%, respectivamente).
Zona rural
A pesquisa mostrou diferenças regionais e em relação a situação de domicílio . As famílias em situação rural recebiam pouco mais da metade (52,3%) do valor recebido em áreas urbanas.
Centro-Oeste (R$6.772,86) e Sudeste (R$6.391,29) foram a regiões com maiores rendimentos, enquanto Nordeste (R$ 3.557,98) e Norte (R$ 3.647,70) apresentaram os menores valores .