Explicar 'caixa-preta' vai mostrar que BNDES é patriota, diz Montezano
Novo presidente do banco de fomento defendeu que instituição seja "menos banco e mais desenvolvimento", disse que é preciso se revoltar com alto desemprego no país, e que a economia brasileira está em colapso. Confira
O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, afirmou nesta sexta-feira (19), em sua posse oficial no banco de fomento, no Rio de Janeiro, que o objetivo de sua meta de "explicar a caixa-preta" em dois meses é "mostrar que somos, sim, patriotas". Para o novo mandatário, essa é a "meta 0" de sua gestão, já que "o BNDES está sob ataque" e "precisamos virar essa página".
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Em sua primeira palestra oficial aos funcionários na sede do BNDES, o novo presidente afirmou que o banco vai "Abrir para toda a população o que o brasileiro quiser ver, sem entrar no mérito se isso já foi aberto ou não." Segundo especialistas, as informações que os críticos da transparência do banco afirmam querer acessar já foram divulgadas nos últimos anos e estão disponíveis no site do BNDES .
"Vamos dar todas as informações necessárias, explicar tudo o que tiver que explicar. Sem entrar no mérito se a informação já foi ou não exposta, a gente vai fazer. E a gente vai virar essa página. Porque se a gente não virar, vai continuar uma nuvem cinza em cima do banco como tem sido há anos, e os bancos vai aos pouquinhos deteriorando sua imagem, sua credibilidade. As pessoas não vão querer se aproximar da gente. Então esse é o marco zero da nossa estratégia. Mostrar para o povo brasileiro que nós somos, sim, patriotas, que nós somos, sim, transparentes, e montar um banco de serviço", pregou.
Segundo Montezano , a economia brasileira está em "colapso" e "é preciso se revoltar com os 30 milhões de desempregados" no país. Ele defende que a missão social do banco será prioridade em sua gestão. O engenheiro ressaltou ainda que quer resgatar a imagem de "patriota" e "transparente" do banco, e que a instituição deve ser medida não pelo volume de desembolsos, mas pela sustentabilidade de sua operação.
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"A economia brasileira está em colapso , é um cenário trágico. Nossa competitividade, nossa produtividade, nosso crescimento de PIB é pífio. A gente tem 30 milhões de pessoas sem emprego no Brasil. Vou repetir gritando: 30 milhões. Temos que estar revoltados com isso, não podemos se acostumar com esse absurdo. Não podemos nos acostumar com gente vivendo com esgoto, com cocô, com xixi na porta de casa. Temos que nos revoltar" bradou, acrescentando que "a motivação do dinheiro está morrendo no capitalismo moderno."
Para Montezano, o BNDES precisa transferir recursos que estão hoje alocados em "investimentos especulativos", as aplicações em ações na Bolsa, para projetos de saneamento, por exemplo. Uma das metas do novo presidente é vender a carteira de quase R$ 110 bilhões em ações detidas pela BNDESPar, seu braço de participações. Ele ressalta, porém, que não há prazos "porque não controlamos o mercado".
"Temos R$ 16 bilhões (aplicados) em saneamento e R$ 53,4 bilhões na Petrobras. Era para ser o contrário", ponderou. "O BNDES tem que ser menos banco e mais desenvolvimento. Nos últimos anos, com o desafio dado pelo governo de alocar bilhões em capital, ele se tornou muito banco. Ele se mede por desembolso. Vamos continuar fazendo isso, mas menos", observou, contando que "intuía" que o BNDES seria o lugar onde ele ajudaria o país a sair da crise quando resolveu voltar o Brasil após três anos trabalhando na trading de commodities do BTG Pactual em Londres.
O presidente do banco defendeu a devolução total ao Tesouro dos empréstimos feitos ao banco e que "isso não quer dizer que o banco vai fechar, pelo contrário". Montezano ressaltou que, mesmo após devolver todos os recursos ao Tesouro, o banco continuará sendo a maior empresa pública brasileira.
"O dia que terminarmos de devolver os recursos do Tesouro, o patrimônio do banco ainda terá R$ 90 bilhões. Ainda assim, o banco será o principal investimento do governo federal em qualquer empresa do Brasil. O governo está quebrado, está sem dinheiro, e mesmo depois de isso acontecer, nós seremos a maior estatal federal do Brasil de longe. É tudo normal, é só um ajuste financeiro. É só um ajuste de capital para sermos menos banco, mais desenvolvimento", repetiu Montezano, reafirmando o compromisso de devolver R$ 126 bilhões ainda neste ano.
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Segundo o novo presidente do banco, o Tesouro tem R$ 330 bilhões aplicados no BNDES, "e isso é muito relevante, é quase 7% da dívida líquida do governo federal."