Economistas apontam que saída de Levy do BNDES é fonte de turbulência no governo

Após ameaças públicas feitas por Jair Bolsonaro, Joaquim Levy pediu demissão da presidência do BNDES na manhã deste domingo (16)

Joaquim Levy pediu demissão da presidência do BNDES neste domingo (16)
Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Joaquim Levy pediu demissão da presidência do BNDES neste domingo (16)

saída de Joaquim Levy da presidência do BNDES foi lamentada por economistas e analistas do mercado, que o consideravam "o profissional certo no lugar certo" e exitoso em sua missão de reduzir o tamanho do banco.

Na visão dos especialistas, a forma como ele foi levado a deixar o cargo -  teve seu trabalho criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro - causa insegurança na equipe econômica do governo, até então blindada pela confiança nas escolhas do ministro da Economia, Paulo Guedes. A expectativa de economistas é que a saída de Levy do governo tenha impacto no mercado. 

"Ele foi demitido publicamente, por um impulso do presidente e isso causa insegurança na equipe e no próprio mercado. Quem vai ser o próximo a passar por esse aborrecimento? A reação vai depender do nome que o substituirá. Tem de ser alguém com as credenciais dele e que seja vista pelo mercado como alguém com capacidade de comandar o BNDES ", disse o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, em entrevista à GloboNews na tarde deste domingo (16).

Ele ainda ressaltou que o governo perdeu um professsional "de alta qualidade, no setor público e privado e com passagem por organizações internacionais", mas que qualquer que seja o nome que venha a substitui-lo não deve haver mudança na orientação sobre o novo papel do banco.

"Desde o governo Temer o BNDES está devolvendo recursos ao Tesouro, voltando às suas origens. Deixando de ser um banco que procura construir campeões nacionais para atuar em áreas em que o setor privado não atua", disse Nóbrega.

Para o ex-ministro, até que seja encontrado um novo nome para ocupar a presidência o sentimento será de apreensão dentro do banco e por parte do mercado. 

"Os funcionáriso ficarão preocupados com a questão da continuidade, pois o banco se engajou em uma atuação mais saudável para a economia. O banco precida de um líder que os oriente no cumprimento de funções relevantes para a economia brasileira. Essas dúvidas devem acompanhar o quadro de funcionários nas próximas horas e o mercado deve amanhecer reagindo negativamente", completou. 

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, disse, também em entrevista à GloboNews, que idependentemente de o banco começar ou não a segunda-feira com um novo presidente, dólar e Bolsa reagirão negativamente à saída de Levy porque a leitura é que esta foi a primeira grande interferência do presidente Bolsonaro sobre a equipe de Guedes, até então blindada.

"O cargo de presidente do BNDES é o plano B ao Paulo Guedes, para o mercado. Esse cargo ficar vago dois dias depois de o  ministro da Economia ter demonstrado desconforto com o relatório que trouxe mudanças ao texto da reforma da Previdência preocupa. Podemos ter uma queda generalizada dos papéis, pois é uma área do governo que até então parecia blindada - disse Perfeito.

Ele ressaltou que o mercado espera que o substituto de Levy seja um "nome bem técnico e liberal, que dê andamento ao processo de diminuição do banco".

A especialista em contas públicas e professora do departamento de Economia da UFRJ Margarida Gutierrez disse que será difícil encontrar um nome que esteja à altura das credenciais de Levy, para comandar o banco.

"A forma como tudo ocorreu é lamentável. Eu realmente fiquei supresa, pois o Levy é um profissional de altíssimo nível. Era a pessoa certa no lugar certo. E o que ocorreu representa uma ingerência muito grande sobre a estrutura administrativa do banco", falou.

Ela disse ainda, que o novo presidente presidente dar prosseguimente ao processo de transição do banco para uma estrutura menor, com menos uso do dinheiro do contribuinte e mais dos recursos que ele mesmo pode captar.

"Dependendo da competência de quem assumir, essa transição corre risco. Levy tinha alta capacidade técnica e muita noção de como devem ser viabilizados projetos e financiamentos."

O estopim da crise foi a nomeação de Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de Mercado de Capitais. A nomeação irritou Bolsonaro pois Barbosa Pinto já havia trabalhado no banco durante o governo do PT, como chefe de gabinete de Demian Fiocca, quando ele ocupou a presidência do banco de fomento.

Na noite de sábado (15), Barbosa Pinto renunciou ao cargo citando o descontentamento manifestado pelo presidente. Neste domingo, Levy entregou sua carta de renúncia.