BC vê primeiro trimestre "aquém do esperado" e País pode ter recessão técnica
Ata do Copom definiu manutenção da taxa Selic em 6,5%, a mínima histórica, mas alertou para possível queda do PIB nos três primeiros meses deste ano; revisão do crescimento de 2018 poderia revelar recessão técnica. Entenda
O Banco Central (BC) apontou uma “probabilidade relevante” de que a economia brasileira tenha recuado "ligeiramente" no primeiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, após definir a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 6,5%, a mínima histórica. O discurso segue sendo de cautela e tempo para analisar a fundo o quadro antes de eventual mudança na rota dos juros. A avaliação consta da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira (14).
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A nona manutenção consecutiva da Selic, além de revelar pessimismo e desaquecimento da economia brasileira, também liga o alerta para a possibilidade de o Brasil registrar recessão técnica entre o quarto trimestre de 2018 e o primeiro deste ano. Isso porque, a cada divulgação trimestral, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisa o número anterior.
Nos últimos três meses do ano passado, foi registrado crescimento de apenas 0,1%, e a projeção para o período seguinte vai de queda de 0,2% a crescimento de mesmo nível. Se a revisão apontar queda do Produto Interno Bruto (PIB) em dois trimestres consecutivos, é usado o termo recessão técnica , situação que o País não enfrenta desde o fim de 2016.
Segundo a ata do Copom , a economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, o que se reflete nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego . Para o comitê, os indicadores do primeiro trimestre induziram revisões "substantivas" nas projeções para o crescimento do PIB em 2019.
“Os membros do Copom avaliam que o processo de recuperação gradual da atividade econômica sofreu interrupção no período recente, mas o cenário básico contempla sua retomada adiante”, diz um trecho do documento.
O colegiado também demonstrou preocupação com uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira, alertando que isso pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. A situação pode se agravar em caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes.
"A manutenção de incertezas quanto à sustentabilidade fiscal tende a ser contracionista. Reformas que geram sustentabilidade da trajetória fiscal futura têm potencial expansionista, que pode contrabalançar efeitos de ajustes fiscais de curto prazo sobre a atividade econômica, além de mitigar os riscos de episódios de instabilidade com elevação de prêmios de risco, como o ocorrido em 2018”, destacou o comitê, ao falar sobre a situação das contas públicas brasileiras.
Para os integrantes do Copom, uma aceleração do ritmo de retomada da economia para patamares mais robustos dependerá, também, de outras iniciativas que visam ao aumento de produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios. "Esses esforços são fundamentais para a retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira", avalia a ata.
O Copom prevê uma inflação para as tarifas públicas de 5,3% em 2019 e 5% em 2020. Esse cenário leva em conta uma Selic constante em 6,5% ao ano e a taxa de câmbio a R$ 3,95. As projeções do colegiado para a inflação estão em 4,3% para 2019 e 4% para 2020.
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Segundo a ata, o cenário externo permanece desafiador, dada à forte possibilidade de uma desaceleração da economia global. Por outro lado, os riscos associados à normalização das taxas de juros de algumas economias avançadas tenham diminuído a curto e médio prazos.