Não houve fila nem confusão no saguão dos aeroportos neste sábado. No entanto, não faltaram passageiros reclamando dos transtornos causados pelo cancelamento de seis voos da Avianca.
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Com dez aviões arrestados por dívida com credores, a Avianca , que está em recuperação judicial desde dezembro, suspenderá outras 173 decolagens até quarta-feira . Neste sábado, oficialmente, foram cancelados dois voos com saídas do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, um de Congonhas, em São Paulo, e três de Brasília.
Passageiros relataram, no entanto, mudanças em outras rotas da companhia. A Infraero informou, por exemplo, que o voo da empresa de Congonhas para Salvador, previsto para decolar às 21h40, também estava cancelado, apesar de não constar na lista.
A expectativa é sobre como serão os próximos dias, já que neste domingo haverá mais 19 voos cancelados, sendo a maioria em São Paulo (quatro saindo de Congonhas e três, de Guarulhos), além de três, no Rio, três em Brasília e outros salpicados de Norte a Sul do país. De segunda a quarta-feira, serão 50 decolagens suspensas por dia.
Procurada a empresa ainda não informou quantos passageiros foram realocados neste sábado e nem qual é a previsão para os próximos dias.
Passageiros reclamam da comunicação
O fato é que a mudança nos voos da empresa aérea tem impacto no planejamento dos passageiro. O diretor de tecnologia Pedro Henrique Gomes Camilo, de Goiânia (GO), por exemplo, vai perder o casamento de um casal de amigos. Ele fechou em janeiro um pacote para passar uma semana em Maceió (AL), com embarque previsto para esse sábado e a volta para o dia 20 de abril, pela manhã. Na sexta-feira, no entanto, Camilo foi surpreendido por uma ligação da Avianca, informando que o voo foi cancelado e a data de volta alterada para o dia 21.
"Comprei em janeiro as passagens . Não sabia que a Avianca estava em recuperação judicial" disse, enquanto acertava os últimos detalhes do remanejamento do voo no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Já a assistente de Recursos Humanos, Crislaine Tavares, de 26 anos, comprou um pacote para passar as férias em Fortaleza com o pai, a mãe e a irmã, e corre o risco de não chegar a tempo para os primeiros passeios que, inclusive, já estão pagos. Ao ligar para se informar sobre voo, a empresa informou que o voo, marcado para as 9h deste sábado, estava mantido. Porém, ao chegarem ao aeroporto, descobriram que o voo estava atrasado e só conseguiriam embarcar às 14h, perdendo a conexão de meio dia em Brasília.
"Disseram que irão nos colocar em um vôo da Latam. Estamos de férias, mas com a programação toda cronometrada. Se chegarmos tarde em Fortaleza vamos perder alguns passeios que já foram pagos", lamenta Crislaine.
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Koou Saito, 76 anos, que estava no Rio a trabalho, foi informado na sexta-feira da antecipação do voo para São Paulo antecipado de 18h40 para 10h40. Para ele, não houve transtorno, mas ele teme pela situação dos demais passageiros e da própria companhia aérea:
"Para mim foi bom, porque vou voltar mais cedo. Mas pode ser que para outras pessoas tenha sido ruim. Acho lamentável o que está acontecendo. Sempre gostei da Avianca e fico preocupado que essa situação acabe deixando os funcionários desempregados".
Redução de concorrência preocupa
Em nota, a Avianca recomenda que os passageiros acompanhem a situação dos voos no site da companhia , garantindo que mudanças serão informadas com até 72 horas de antecedência. E acrescenta que entrará em contato com o passageiro caso o ticket tenha sido adquirido nos canais diretos (site, lojas Avianca ou atendimento telefônico). Se a compra foi feita em agências de viagem ou site de agências, a recomendação é entrar em contato com a empresa que fez a venda.
No entanto, passageiros relataram que houve falhas na comunicação. O casal Vinícius e Ana Cecília Viana, recebeu uma ligação da Aviança nesta sexta-feira, às 18h, para avisar que o voo que deveria decolar às 12h10, deste sábado, para Brasília seria antecipado para as 9h. Com dois filhos pequenos, eles avisaram que não seria possível chegar a tempo e foram remanejados para um voo da TAM às 12h35.
"A Avianca ligou muito em cima da hora, não conseguiríamos chegar no aeroporto tão cedo. Felizmente, como fizeram essa transferência para outra companhia, o transtorno não foi tão grande" conta Vinícius Viana.
Já o empresário Eduardo Luiz Pires Lopes dos Santos, de 30 anos, e a esposa Katiane Rocha, de 33, grávida de sete meses, que estavam nesse mesmo voo para Brasília, se queixam por não terem sido informados sobre a antecipação.
"Ninguém ligou para avisar da mudança de horário. E como só vimos hoje às 8h, não tinha mais como chegarmos a tempo. Agora fomos informados de que fomos encaixados no voo de 11h55 da Gol. Acho que poderiam ter tido uma preocupação maior com os passageiros", disse Katiane, reclamando ainda que ela e o marido foram colocados em assentos separado da filha.
Para Santos, se houvesse uma concorrência maior pode ser que o atendimento aos passageiros melhorasse.
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"As passagens são muito caras e o atendimento é ruim. Acredito que com uma concorrência maior isso poderia melhorar. Se a Avianca sair do mercado, vai ser pior ainda".
A redução da concorrência é uma das principais preocupações do advogado Igor Britto, especialista em aviação civil do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec):
"Há um consenso de todos os órgãos de defesa do consumidor que falta concorrência ao setor aéreo e a saída da Avianca do mercado aumentaria a concentração. Por isso, é importante que ela se recupere. Em toda recuperação judicial é esperado um período de turbulência. Para sobreviver a essa etapa é necessário um nível muito alto de qualidade de informações sobre as medidas que a Avianca e a Agência Nacional de Aviação Civil estão tomando em prol do consumidor para garantir o serviço".