Distorções no IPTU têm relação direta com desemprego, diz advogado tributarista

Um dos responsáveis pela redação de projeto defendido pelo movimento IPTU Justo em Campinas, advogado Adelmo Emerenciano explica tributo

Moradores e empresários de Campinas realizaram manifestação em apoio à bandeira do IPTU Justo
Foto: Divulgação/IPTU Justo Campinas
Moradores e empresários de Campinas realizaram manifestação em apoio à bandeira do IPTU Justo

Moradores, empresários e integrantes de ao menos 30 entidades realizaram manifestação nessa segunda-feira (11) em Campinas , no interior de São Paulo, para pressionar a prefeitura da cidade e a Câmara Municipal a revogarem reajuste do IPTU. O ato foi organizado pelo movimento IPTU Justo e contou com apoio do Movimento Brasil Livre (MBL).

Os campineiros cobram a reversão do aumento no valor de até 50% no Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, medida aprovada em 2017. Para isso, os adeptos ao movimento IPTU Justo defendem a aprovação de proposta apresentada pelos vereadores Tenente Santini (PSD), Marcelo Silva (PSD) e Nelson Hossri (Pode). 

O texto foi elaborado por meio de discussão que envolveu diversos setores da sociedade e contou com o apoio técnico do advogado tributarista Adelmo Emerenciano. A redação final prevê o congelamento do valor do IPTU por cinco anos, com o cancelamento do reajuste de 10% para 2019 e o alargamento das faixas de progressividade.

Emerenciano explica que a revisão é necessária pois a nova metodologia para o cálculo do imposto em Campinas leva em conta o valor venal do imóvel num patamar pré-crise.

"Hoje, esse valor é irreal com os praticados no mercado. Isso resulta em uma carga fiscal com graves distorções, em que o reajuste alcançou 50% ou mais", explica o advogado. "Isso ocorre num momento de muita crise, não só para os contribuintes residenciais, mas principalmente para os comerciantes e industriais."

Os impactos dessas "graves distorções" são diversos e vão bem além da possível inadimplência de moradores que não têm como pagar o imposto.

"Há uma conexão direta entre aumento do IPTU e o aumento do desemprego", explica Emerenciano. "As indústrias e empresas de logística estão optando por se instalarem em municípios vizinhos, no entorno de Campinas . No setor imobiliário, ocorre enorme quantidade de imóveis vazios e desvalorização imobiliária. É tão forte esse impacto que Campinas é hoje uma das cidades que mais perderam investimentos", lamenta.

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Foto: Divulgação/IPTU Justo Campinas
Moradores e empresários de Campinas realizaram manifestação em apoio à bandeira do IPTU Justo

O advogado tributarista esclarece que, muito embora o IPTU represente uma das principais fontes de renda para os municípios, a promoção de reajustes acima do razoável acaba por surtir efeito contrário à saúde financeira da cidade. 

"A redução do valor do IPTU permite maior geração de renda, de um movimento econômico que compensa as perdas por meio de maior arrecadação com o ISS (Imposto Sobre Serviços). A cidade está exigindo mais de seus moradores e recebendo menos do movimento econômico da região", diz Emerenciano.

"O ISS é melhor porque ele toma em conta o seu movimento econômico. Já o IPTU, mesmo que você não venda nada, você tem que pagar. A grande crítica é que a alíquota está fazendo com que as pessoas se sintam pagando um aluguel para viver em sua própria residência", resumiu o advogado.

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O movimento IPTU Justo nasceu na capital paulista, por meio de iniciativa da sociedade civil. Dos cidadãos comuns, a ideia se espalhou para associações de moradores e associações comerciais e, hoje, a ideia ganhou adeptos em vários outros municípios, mesmo fora do estado de São Paulo. Na capital paulista, a lista de adeptos à ideia de um IPTU mais justo já reúne cerca de 3 milhões de cidadãos.