Austeridade fiscal dificulta redução de desigualdades, diz órgão da ONU
Relatório da UNCTAD também destaca que falta de expansão econômica está ligada ao aumento da diferença de renda entre homens e mulheres
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Para Antonio Carlos Macedo e Silva, professor de economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o mundo vive um momento de crescimento lento após quase uma década de crise e este cenário deve continuar nos próximos anos. "A recuperação é fraca. E a tese é que vai continuar fraca e frágil enquanto uma série de obstáculos não for superada. O consenso em torno da chamada austeridade fiscal é um desses obstáculos”, disse Silva, que também é pesquisador da UNCTAD.
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Segundo o professor, o crescimento econômico abaixo do esperado é explicado pelo aumento da desigualdade. "A economia global tem crescido a taxas muito inferiores às das décadas anteriores, porque, tanto durante o processo de crescimento quanto na esteira da recessão, na maior parte dos países, a desigualdade só fez aumentar. É um problema que consideramos realmente dramático", disse.
O relatório indica que políticas de redução de gastos públicos tendem a agravas tais disparidades. "Desde que a desaceleração global tem um lado significativo de demanda, políticas que favorecem a redução de custos de mão de obra e gastos públicos vão, na verdade, piorar a situação", afirma o estudo. "Acabar com a austeridade continua a ser um pré-requisito básico para construir caminhos sustentáveis e inclusivos de crescimento".
Gastos coordenados
Apesar de defender medidas expansionistas acompanhadas de um modelos que possa garantir aumento das receitas, o relatório afirma que este tipo de movimento não pode ser feito de forma isolada. "A proposta da UNCTAD não é a de que está ao alcance de qualquer país, em qualquer momento, implementar uma política fiscal expansionista e sair crescendo", afirma Silva.
"Isso pode não dar certo especialmente quando você está fazendo isso sozinho. Se você faz isso sozinho, você está submetendo o seu país, por exemplo, ao risco de fuga de capitais, de ataques especulativos, de crises cambiais", complemente. O economista destacou que medidas no sentido contrário à austeridade precisam ser adotadas em conjunto com diversos países, minimizando riscos.
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"Daí a ideia de que a gente poderia tentar coordenar. Não é tão utópico assim, a gente já tentou fazer algo nessa mesma linha na esteira da crise. Só que, por timidez, por excesso de conservadorismo, a visão da austeridade que irresponsabiliza a política fiscal, libera a política fiscal da tarefa que lhe é inata de, junto com a política monetária, afetar o nível de atividade, acabou prevalecendo", opina.
* Com informações da Agência Brasil.