Quem é o britânico acusado de provocar um crash na bolsa de NY da casa dos pais
Tribunal britânico deu sinal verde para que Navinder Sarao seja extraditado aos EUA e julgado em território norte-americano
Há seis anos, o índice Dow Jones, um dos principais indicadores do mercado financeiro dos Estados Unidos, caiu quase 1 mil pontos por causa de um único homem: Navinder Sarao. E, segundo o FBI, a polícia federal americana, Sarao operava do outro lado do Atlântico, mais exatamente da casa dos pais, em Londres.
Na quarta-feira, um tribunal britânico deu o sinal verde para que ele seja extraditado aos Estados Unidos e julgado naquele país.
Nos Estados Unidos, ele enfrenta 22 acusações, incluindo fraude. Sarao se diz inocente e seus advogados informaram que vão recorrer da extradição.
Ele também é acusado de spoofing, como é chamada a prática de compra e venda com a intenção de cancelar a transação antes da executá-la.
O rombo foi provocado por Sarao do quarto onde ele cresceu no Reino Unido.
Aos 37 anos, sua aparência em nada se assemelha à dos operadores bem vestidos que operam no chão do pregão. Sarao negociava de forma remota na bolsa de Chicago, uma cidade que nunca havia visitado.
Em menos de cinco anos, Sarao ganhou mais de US$ 42 milhões (R$ 155 milhões).
Sarao operava na Chicago Mercantile Exchange, um mercado altamente computadorizado em que leigos têm pouca chance de operar. Nesse tipo de operação, qualquer segundo é precioso ─ e pode permitir lucros extraordinários.
'Operação'
Segundo os investigadores do FBI, Sarao havia modificado um software disponível comercialmente, alterando um algoritmo. Ele disponibilizava ordens de venda milionárias, mas sem qualquer intenção de executar essas operações. Com as ordens de venda excedendo as ordens de compra, a impressão era de que o mercado estava a ponto de desabar.
Para evitar perder dinheiro, os operadores passavam, então, a vender ações, e os preços, em consequência, caíam. Com o mercado em baixa, Sarao cancelava as ordens de venda e comprava os papéis, por valores mais baixos.
Quando o mercado percebia que as ordens de venda haviam sido canceladas, os preços se recuperavam rapidamente. Era nesse momento que Sarao aproveitava para ganhar dinheiro, vendendo as ações que havia comprado. O lucro de cada operação era pequeno. Mas, ao longo do dia, se avolumava.
Basicamente, segundo o FBI, as ordens de venda de Sarao eram falsas, projetadas para "enganar" o mercado. Ele não tinha a intenção de executá-las. E spoofing é um crime segundo a lei americana.
O FBI também acusa Sarao de ter causado o "flash crash" de 6 de maio de 2010.
Nesse dia, houve o que os analistas de Wall Street chamaram de "flash crash", ou um tombo relâmpago no mercado de ações, que deixou prejuízos de centenas de milhões de dólares. O índice Dow Jones perdeu 700 pontos em questão de minutos. O FBI diz que isso ocorreu, em parte, devido a Sarao.
Extradição
O advogado de Sarao, James Lewis, rebateu as acusações e diz que seu cliente não poderia ter "contribuído materialmente" para o episódio.
Em vez disso, Lewis argumenta que o terremoto financeiro ocorreu por causa de uma enorme ordem de venda de um fundo de hedge americano. Ele também afirmou que se Sarao for condenado, as autoridades americanas vão cometer o que chamou de "abuso".
Lewis acrescentou ainda que, pelo acordo de extradição entre Estados Unidos e Reino Unido, o acusado só pode ser extraditado se o crime que teria cometido é tipificado na lei britânica. Só que o spoofing não está definido como crime no Reino Unido.
'Brilhante'
Descrito como uma criança inteligente e sociável na escola, Sarao possui, segundo seus advogados, uma versão grave da síndrome de Asperger.
Em 2010, ele criou uma offshore na ilha de São Cristovão e Névis, no Caribe.
Sarao foi detido por quatro meses, entre abril e agosto de 2015. Ele não pôde pagar fiança porque seu dinheiro está congelado pelas autoridades americanas.
Em seu julgamento, ele afirmou: "Por que eu estou sendo punido por ter feito um bom trabalho?"