Crescimento econômico não pode se basear na escravidão, diz prêmio Nobel da Paz
Em visita ao Brasil, o indiano Kailash Satyarthi, vencedor do Nobel da Paz em 2014, levanta a voz contra o trabalho escravo
O indiano Kailash Satyarthi era jornalista e trabalhava em um escritório quando um homem veio lhe pedir um favor. Ele disse que sua filha de 14 anos seria levada para trabalhar como escrava e pedia por ajuda. Com muita dificuldade, Kailash levou o caso a um tribunal e conseguiu libertar a menina. Foi assim que começou a história de ativismo em direitos humanos do indiano, que já resgatou mais de 83 mil crianças do trabalho infantil, feito que lhe rendeu o prêmio Nobel da Paz em 2014.
Em visita ao Brasil para o lançamento da campanha nacional contra o trabalho escravo #SomosLivres, promovida pela Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), Kailash não poupou críticas às corporações que utilizam desses meios para obter lucro. “Melhorar a economia afetando a liberdade humana vai contra a civilização. O crescimento não pode se basear na escravidão”, afirmou.
Na ocasião, foi divulgada uma pesquisa que identificou que a maioria dos brasileiros não sabe responder com clareza o que caracteriza uma situação de escravidão. O levantamento aponta que 27% afirmam diretamente não saber do que se trata o tema. Segundo o indiano, a percepção sobre a escravidão está incorreta e o conhecimento é o ponto de partida para mudar a situação.
Kailash complementou que, antigamente, as pessoas achavam que a abolição da escravatura havia acabado com o problema.
Ele também comentou sobre sua carreira como ativista. Ele conduzia manifestações pacíficas contra o trabalho escravo na Índia e já foi agredido por seu posicionamento e chegou a ter membros do corpo quebrados. Mesmo assim, nunca utilizou violência contra os outros. “Toda vez que eu libertava uma criança eu também me libertava. A liberdade não é negociável.”
O líder ainda elogiou a legislação brasileira e disse que é uma das mais progressistas, por englobar todos os aspectos da definição de “trabalho escravo”.
A campanha #SomosLivres busca mobilizar as pessoas a se informarem sobre o assunto. No site oficial, os usuários podem saber mais sobre o trabalho escravo no Brasil.