A cinco dias da reunião do G-20, das potências industrializadas e dos países em desenvolvimento, em Londres, destinada a buscar soluções para a crise global, líderes progressistas pediram neste sábado, no Chile, uma oportunidade para encarar a débâcle - ao mesmo tempo em que defenderam uma nova economia que permita compartilhar a prosperidade.
Ao final da Cúpula Progressista, que pela primeira vez aconteceu na América Latina, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, solicitou especificamente aos detratores da reunião do G-20 - na próxima quinta-feira - uma oportunidade para aprovar medidas voltadas para terminar com a crise econômica.
"Espero que ouçam o que temos a dizer e talvez possamos esclarecer que vamos sair da reunião do G-20 com algumas propostas concretas", declarou Biden, em entrevista à imprensa, ao final do encontro de líderes progressistas no Chile.
O fórum foi realizado entre sexta-feira e sábado na cidade chilena de Viña del Mar com o objetivo de aproximar posições tendo em vista a reunião do G-20.
Participaram também do encontro, no Chile, o premier britânico Gordon Brown, o presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, os presidentes de Brasil, Argentina e Uruguai, além da presidente chilena Michelle Bachelet.
Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram neste sábado contra a crise, considerada a pior desde a Segunda Guerra Mundial, nas ruas de Londres. Outros milhares também foram às ruas em Paris, Berlim e Frankfurt, entre outras capitais.
"Entendo a situação que está acontecendo em Londres hoje e vamos responder a isso no G-20", assinalou por sua vez o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, presente também na entrevista à imprensa.
Em nome de todos os líderes progressistas, a presidente chilena Michelle Bachelet afirmou que pedirá ao G-20 consideração especial para com a América Latina.
"Não queremos que fique de fora, no olhar do G-20, a perspectiva de gravísimas repercussões da crise em países da América Latina", destacou.
"Solicitamos também (...) que se considere, entre as decisões a serem tomadas, recapitalizar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)", acrescentou.
A declaração final da cúpula saiu em defesa de uma "nova economia que permita à prosperidade ser amplamente compartilhada".
Os líderes também pediram a reforma da regulação das instituições financeiras, evitar políticas protecionistas, concluir com êxito a Rodada de Doha e medidas coordenadas para estimular a economia.
Enfatizaram a necessidade de uma "recuperação verde", em resposta à questão da mudança climática.
"Não deixamos o encontro com um olhar otimista. As dificulades são muitas, mas há uma vontade muito grande de coordenar ideias e respostas para uma situação global", afirmou Bachelet.
O presidente brasileiro Luiz Inacio Lula da Silva disse que pedirá ao G-20 discutir soluções para o mercado de futuro.
"Não podemos deixar de discutir uma solução para os mercados de futuro. Se não, vamos voltar à crise do petróleo e das commodities agrícolas nas bolsas de futuro de todo o mundo", afirmou.
Rodríguez Zapatero pediu por sua vez democracia e solidariedade para enfrentar a crise, enquanto a argentina Cristina Kirchner advogou por um papel mais ativo do Estado.
O encontro também foi cenário de reuniões bilaterais.
Cristina Kirchner se reuniu com Gordon Brown, a quem voltou a apresentar a reclamação argentina sobre as ilhas Malvinas, a quatro dias de um novo aniversário do início da guerra entre os dois países, em 1982.
Brown reafirmou a posição britânica de não iniciar conversações relacionadas à soberania enquanto não houver uma posição dos moradores das ilhas, segundo uma fonte de seu governo.
Rodríguez Zapatero conversou com o vice-presidente Biden, para quem a Espanha é um dos parceiros "mais fortes" dos Estados Unidos.
bur/na/sd