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Com o isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) as pessoas tem consumido mais café  em casa. De acordo com o presidente-executivo do Sindicafé-SP (Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo), Nathan Herszkowicz , "nos dias anteriores ao anúncio da quarentena, houve um movimento muito grande de compra de produtos de todo tipo, não só de café, mas do comércio em geral. Nos supermercados, o movimento cresceu de 25% a 30%".

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"As vendas de café , em muitos casos, tiveram um crescimento que não víamos há muito tempo, de 35% em média no primeiro trimestre do ano. É um nível de crescimento muito acima dos 3%, 4% que tem sido a média brasileira nos últimos anos", afirmou Herszkowicz .

O presidente da Sindicafé-SP, Nathan Herszkowicz
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O presidente da Sindicafé-SP, Nathan Herszkowicz


Lívia Marques , 19, é uma dessas pessoas que tem aumentado seu consumo de cafeína devido ao novo ritmo de home office.  "Ele ( café ) não é uma coisa que me deixa acordada, mas me faz prestar atenção nas coisas. Sinto que já está virando um vício, se eu não tomar fico meio perdida, acabo deixando passar alguns erros muito básicos", afirma a universitária.

"Acordo cedo para as aulas, tomo uma xícara de café, caso contrário, não consigo funcionar. Depois, às 14h, quando entro no trabalho, é fatal que tomarei outra xícara. Até às 19h, que é minha jornada de trabalho, acabo pegando mais café, caso eu não tenha dormido direito. À noite, costumo fazer meus trabalhos da faculdade e acabo tomando mais uma xícara ", completa.

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Outra pessoa que teve sua relação com a cafeína alterada foi a universitária  Ana Carolina Prado , 19, que relata: "Tomar café sempre foi um dos meus prazeres diários, mas agora se tornou também um jeito de me manter ativa durante o dia, já que não posso me dar ao luxo de parar. A quarentena desperta um sentimento em cada um ou uma vontade, a minha é de realmente ficar deitada o dia inteiro, muitas vezes".

Segundo Ana Carolina o café também está substituindo os seus cigarros de tabaco e bebidas alcoolicas, que ela tinha o hábito de consumir nos fins de tarde e aos finais de semana. "Em casa não estou fumando nem bebendo. Talvez seja uma tentativa de  desintoxicação ", completa.

Segundo Herszcowicz , a alta nas vendas de café se dá, principalmente, por conta do home-office : "Os dados mostram que o consumidor está associado ao café, sendo um dos produtos que não deveriam faltar na casa de ninguém. Além disso, foi intensificado o consumo por conta do aumento do home-office . Ou seja, o consumo de café dentro do lar ultrapassou, e muito, o consumo fora de casa", explica.

"Antes, havíamos cerca 38% de consumo do café dentro dos lares e 18% em locais como bares , panificadoras , cafeterias e restaurantes . Todas as cafeterias passam por um problema sério, já que tiveram que ficar fechadas desde o mês de março e não conseguiram aguentar esse impacto em seus negócios", completou o presidente da Sindicafé-SP

Frutos não foram afetados

Herszcowicz alerta sobre o fato de que a colheita não foi afetada pela pandemia: "O coronavírus não causou, por enquanto, um ataque prejudicial à cultura do café. Os fluxos e a lavoura do café tem apresentado boa resistência, não tem havido problema e não há relatos negativos", afirma.

"Pelo contrário, estamos começando a colheita do café arábica e tanto este quanto o café robusta , cuja colheita já está em andamento, tem mostrado frutos muito bem formados. Vamos ter uma safra de alta qualidade destes dois tipos de café. O problema mais sensível da crise que estamos passando, em relação ao café, é algo mais de caráter comercial", acrescenta.

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"O fruto não tem sofrido ataque, mesmo em áreas que ocorreram a infestação do vírus. O consumidor pode ficar tranquilo, o produto industrializado apresenta as mesmas características dos tempos normais", completou. 

Setor de exportação

O setor de exportação de cafés especiais tem sofrido o efeito reverso ao do consumo interno. "O consumo externo hoje pode até ter aumentado, só que a maioria do pessoal que comprou esse café manteve estoque e isso vai gerar um período mais longo para que ele tenha que comprar novamente", avalia  Wellignton Carlos Pereira, gerente de exportação da Cooperativa e exportadora de cafés especiais, localizada em Carmo de Minas (Cocarive) 

"Clientes que compraram os cafés antes de março, vão ter de seis a oito meses, no mínimo, sem comprar café. Uma recessão é inevitável", acrescenta. 

"Com o lockdown, a maioria das pessoas foi aos supermercados para comprar os produtos e focaram em adquirir os cafés comerciais , com um preço mais baixo e isso fez com que o consumo e a busca pelo café comercial até tivesse um crescimento nestes últimos meses. Contudo, estamos falando de volume e não de qualidade. Nesse outro tópico, fomos muito afetados", explica. 

Diferença entre café comercial e café especial

Pereira explica que "o mercado do café especial é completamente oposto ao do café comercial no quesito negociação", diz.

"O (café)  comercial  visa um preço mais baixo, sem ter como foco principal o relacionamento e a região. Então, no mercado atual desse tipo de café o que tem ocorrido é uma briga de preços mais baixos, já que todo mundo tem que exportar café, até mesmo para pagar as dívidas das empresas em dólar ", argumenta.

Wellignton Carlos Pereira, gerente de exportação da Cocarive
Reprodução/Cocarive
Wellignton Carlos Pereira, gerente de exportação da Cocarive


"No café especial,  ao contrário, focamos muito no relacionamento . Eu vendo café quando o cliente vem aqui me visitar. Ele vem pra cá, fica aqui na cidade, visita a fazenda, prova e escolhe o café que ele quer. Com essa pandemia, isso não irá acontecer", pondera.

Segundo Pereira, a forma de negociação "será completamente diferente, tendo que mandar amostras, conversando pela internet, o que acaba abrindo muita concorrência", afirma.

"Teremos que nos adaptar a um projeto novo, entrando em um mercado de café comercial mais fino e mais barato do que o especial, ficaremos para trás", completa Pereira. 

Alta do dólar afeta preços negativamente dos cafés

"Com a alta do dólar , o preço do café fica muito atrativo para o exportador. Só que o problema é que o diferencial de valor hoje, ao falarmos de café, está sendo negativo. Historicamente, na Bolsa de Valores de Nova Iorque , o café especial fica posicionado com preço positivo em, geralmente, 10 centavos", diz Pereira. 

"Por exemplo, um café comercial , mais barato de supermercado, que você venderia a menos 10 centavos, hoje está a menos  20 centavos. Então o diferencial acabou caindo muito para compensar essa valorização do dólar ", declara o gerente de exportação.

"Na minha opinião, o impacto até agora para o café especial será por volta de 40% de nosso volume este ano", conclui. 

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