Bento Albuquerque, ministro do gabinete original de Bolsonaro, foi exonerado nesta quarta-feira (11)
Saulo Cruz/Ministério de Minas e Energia
Bento Albuquerque, ministro do gabinete original de Bolsonaro, foi exonerado nesta quarta-feira (11)

queda de Bento Albuquerque pegou de surpresa grande parte do governo. Apesar das constantes críticas do presidente Jair Bolsonaro à política de preços dos combustíveis, muitos imaginavam que Bento continuaria no governo, inclusive por sua origem militar.

Além disso, Bento é um dos poucos remanescentes do gabinete original do governo — juntamente com o general Heleno, que chefia o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Paulo Guedes no Ministério da Economia e o controlador-geral da União, Wagner Rosário . Mas a busca por uma solução ao preço dos combustíveis falou mais alto.

Apesar do discurso oficial do ministério de que a queda de Bento foi "negociada" pelo ex-titular da pasta com o presidente, no governo prevalece a visão de que, além do desgaste sofrido com a troca no comando da Petrobras, não conseguiu apresentar uma solução para conter a recente alta dos preços dos combustíveis.

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O tema é prioritário no governo, porque afeta diretamente a popularidade de Bolsonaro neste ano eleitoral, reduzindo suas chances de reeleição.

Inflação

Na segunda-feira, Bento esteve na Casa Civil, em reunião com seu colega Ciro Nogueira. Naquele dia, a ordem no Palácio do Planalto era fazer o que fosse necessário para resolver a escalada de preço de um produto sensível nos pontos de vista político e econômico: o diesel. Pela manhã, a Petrobras anunciou um reajuste de 8,87% no valor do produto .   

Essa é a maior preocupação da campanha do presidente. A avaliação do grupo político do governo é que a economia tem impedido Bolsonaro de avançar nas pesquisas. Esses sucessivos aumentos contribuem de forma significativa o crescimento da inflação no país.

Na gestão de Albuquerque, os preços dos combustíveis dispararam até 111% no país .

A troca de ministros um dia após o reajuste do preço do diesel indica, para integrantes do governo, que Bolsonaro quer uma solução rápida para a política de preços dos combustíveis. Ao colocar um nome de confiança de Paulo Guedes na pasta — que é considerado um “bolsonarista raiz”,  a ponto de ter participado de manifestações contra o Supremo Tribunal Federal — o presidente indica que vai tentar qualquer meio para criar alívio nos preços.

O sucessor de Bento, Adolfo Sacshida, considerado um nome do mercado e da confiança de Guedes, é também um “bolsonarista de raiz”. No 7 de Setembro do ano passado, por exemplo, esteve na Esplanada do Ministério para protestar contra o STF.

Outra avaliação é que a mudança fortalece o ministro da Economia. Guedes, que sempre foi contra a concessão de subsídios da União para minimizar a alta no valor dos combustíveis. Nos bastidores, Bento atuava junto à ala política que defendia essa estratégia

Pouca oferta

A despeito do tamanho, o novo reajuste do óleo diesel não foi concedido apenas para que houvesse uma paridade do preço com a cotação internacional do petróleo. A correção não zerou a defasagem, mas  foi necessária, para que não falte combustível nos postos do país. E isso ocorre por uma deficiência do Brasil na área de refino de derivados de petróleo.

O Brasil é exportador de petróleo, mas, ao mesmo tempo, importa derivados, especialmente o óleo diesel. Cerca de 20% dos derivados consumidos no país vêm de fora, porque o conjunto de refinarias não é suficiente para atender a demanda doméstica.

Para abastecer todos os postos do país, é preciso importar diesel e gasolina. Se a Petrobras se afasta muito dos preços desses derivados no exterior, os importadores não podem competir com a estatal e tendem a reduzir as compras lá fora. Isso pode levar o país ao desabastecimento, até porque a produção nacional, mais barata, fica atraente para a exportação.

Petrobras

Bento também estava desgastado com Bolsonaro por causa das confusões de última na troca da presidência da Petrobras. O Planalto não gostou da repercussão negativa em torno dos nomes indicados pelo então ministro de Minas e Energia para conduzir a empresa: Rodolfo Landim e Adriano Pires.

Eles não foram confirmados por contrariar as normas de governança da estatal, devido a conflito de interesses com outras empresas do setor. Assumiu a estatal um ex-auxiliar de Bento, José Mauro Ferreira Coelho. 

Alguns interlocutores de Bolsonaro viram, também, vantagem extra na troca nesta quarta-feira: ela ocorreu no mesmo dia da divulgação da maior inflação para abril desde 1996. Muitas das trocas do governo ocorrem em dias de notícias ruins para Bolsonaro, dividindo a atenção pública. 

E não era apenas Bolsonaro que estava com problemas com Bento.  O almirante se posicionou contra a pressão do Centrão para liberar os gasodutos com recursos do pré-sal, em uma conta estimada em até R$ 100 bilhões.

Bento almoçou com um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) há cerca de três semanas, quando o assunto foi tratado. No encontro, segundo interlocutores, disse que não daria a autorização ao Brasduto, justificando que a medida só faria sentido em caso de alta inesperada no preço da energia elétrica, o que não ocorre. Ele buscou tranquilizar o TCU que estava de olho na articulação dos parlamentares.  

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