Com mudanças na Petrobras e no Ministério de Minas e Energia, Guedes passa a 'comandar' setor energético
Lorena Amaro
Com mudanças na Petrobras e no Ministério de Minas e Energia, Guedes passa a 'comandar' setor energético

A escolha de  Caio Paes de Andrade para assumir o comando da Petrobras no lugar de José Mauro Coelho consolida a influência do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a área de energia do governo. O ministro foi além de recuperar a indicação do comando da estatal, que havia perdido no ano passado quando o presidente Jair Bolsonaro resolveu demitir Roberto Castello Branco, escolhido por Guedes para comandar a estatal no início do governo, em janeiro de 2019.

Ele soma a escolha de Andrade, atualmente seu secretário de Desburocratização, à indicação recente de outro ex-auxiliar para o Ministério de Minas e Energia: Adolfo Sachsida.

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Essa posição reforça planos que Guedes tem para os preços dos combustíveis, que tanto afligem Bolsonaro em seu projeto de reeleição a poucos meses do pleito. Guedes quer que a Petrobras adote intervalos mais longos, de cem dias ou mais, entre um reajuste de combustível e outro para amenizar o impacto da volatilidade da cotação internacional do petróleo no bolso dos motoristas, conforme informou a colunista do GLOBO Malu Gaspar.

Em 2021, Bolsonaro escolheu o general da reserva Joaquim Silva e Luna, então presidente de Itaipu, para substituir Castello Branco à revelia de Guedes. Com a queda de Silva e Luna pelo mesmo motivo de Castello Branco - a manutenção da paridade dos preços dos combustíveis com a cotação internacional do petróleo -, Coelho foi escolhido por Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia que foi demitido há duas semanas, deixando o presidente da Petrobras sem sustentação no cargo.

Paulo Guedes agora passa a ter uma força única na área energética do governo com indicação de Caio Andrade à cúpula da Petrobras. Ele já havia conseguido emplacar Sachsida, que foi seu assessor especial e um de seus secretários, para o Ministério de Minas e Energia, no lugar de Albuquerque.

Disposição para avançar logo sobre a Petrobras

Os sinais emitidos por Sachsida, desde que assumiu, são de que ele pretende trabalhar em parceria com o ministro da Economia e com aval de Bolsonaro para mexer na Petrobras. Seu primeiro ato foi entregar a Guedes um pedido de estudos para a privatização da estatal e da Pré-Sal Petróleo (PPSA), um dos principais capítulos da cartilha liberal que o ministro da economia teve dificuldades de concretizar ao longo do atual governo. 

Guedes sempre tentou, sem sucesso, emplacar Caio Paes de Andrade na Petrobras. Com a substituição de Albuquerque por Sachsida na pasta de Minas e Energia, foi uma questão de tempo para ele convencer Bolsonaro a fazer a troca. O fato de ter conseguido isso do presidente tão rapidamente, mesmo com Coelho há pouco mais de um mês no cargo, evidencia a disposição de Bolsonaro de pagar qualquer preço necessário para deter a escalada dos preços dos combustíveis, que refletem preços internacionais segundo a política de preços vigente na estatal.

Os reajustes nos postos alimentam a inflação e prejudicam a popularidade de Bolsonaro no ano eleitoral, inclusive entre categorias de sua base, como a dos caminhoneiros. O comando político do Planalto, que articula outras saídas no Legislativo como mudanças na legislação sobre a cobrança de ICMS sobre combustíveis e energia nos estados, parece disposto a agir logo. Ainda que isso custe o atropelo de regras de governança da Petrobras, reforçadas após a Lava-Jato, e a perda de valor de mercado dos papéis na Bolsa.

Guedes acena com saída eleitoral para os combustíveis

Guedes parece não se importar com esse preço a ser pago pela Petrobras e não esconde sua disposição para ajudar na reeleição do presidente.

Recentemente, afirmou que ficaria no governo se Bolsonaro for reconduzido. Sua proposta de criar intervalos de cem dias para reajustes dos combustíveis tem uma matemática que pode casar bem com o tempo da eleição.

Se efetivar a troca do comando da Petrobras até o fim de junho e aprovar uma nova política de preços até o início de agosto, pode ficar até o segundo turno da eleição, no fim de outubro, sem dar más notícias aos motoristas sobre mudanças nas tabelas dos postos de gasolina.

Segundo um interlocutor próximo a Guedes, Caio Paes de Andrade será um braço importante de Sachsida no encaminhamento do processo de privatização da Petrobras, ainda mais em um momento de turbulência no mercado mundial de combustíveis, ainda que essa ideia tenha sido lançada mais como uma distração, já que não há tempo hábil para vender a estatal neste ano.

O futuro presidente da estatal, ao lado de Sachsida, é tido como uma pessoa competente, que ganhou prestígio com a implementação do GOV.BR, considerado "uma revolução digital" e estaria muito mais disposto a colaborar com os interesses de Bolsonaro do que José Mauro Coelho e seu padrinho, o ex-ministro Bento Albuquerque. Resta saber como passarão pela governança corporativa da Petrobras.

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