O frio intenso em diversas regiões do país está atingindo áreas produtoras de grãos, frutas, verduras e legumes. Os agricultores já estão em alerta, principalmente os que cultivam hortaliças, café, milho, banana e cana-de-açúcar. Segundo especialistas, essas culturas costumam ser as mais sensíveis a baixas temperaturas e geadas.
Se esses alimentos forem afetados, o frio pode resultar em produtos com menor qualidade e ainda mais caros. O café, as frutas e os legumes estão entre os itens que mais subiram de preços nos últimos 12 meses, pressionando a inflação. Todas as regiões brasileiras produzem hortaliças folhosas. Entretanto, as regiões Sudeste e Sul concentram a maior parte da produção.
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Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, batata, alface e tomate não resistem à ocorrência de geadas, por exemplo. Por enquanto, os técnicos não identificaram quebras de safra. No caso de soja, se houver geada no Paraná, as lavouras podem ser prejudicadas, mas isso vai depender da intensidade do fenômeno climático.
No caso de milho, produtores relataram geadas em algumas áreas do sul de Mato Grosso do Sul. No entanto, os possíveis impactos desse fenômeno ainda não foram levantados. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) informou, por meio de nota, que ainda está analisando a situação.
Economista e pesquisador do FGV IBRE, Matheus Peçanha avalia que a ocorrência de frio intenso nas lavouras ainda no mês de maio pode provocar novo repique de preços dos alimentos e recrudescimento da inflação. Mas ainda não há uma estimativa do impacto nos preços ao consumidor.
"As hortaliças e os legumes já sofreram nas últimas geadas. O tomate e cenoura já vinham como produtos com altas significativas de preços e podem voltar a subir. O clima está frustrando todas as previsões da inflação. O café e a cana de açúcar também podem ser bastante afetados", afirma Matheus.
Sondagens do Cepea revelam a preocupação é maior entre os produtores de milho e café. Apesar da expectativa de safra recorde de milho no Brasil, os valores voltaram a subir, interrompendo, o movimento de queda diária consecutiva que vinha sendo verificado desde o fim de abril.
Segundo pesquisadores do Cepea, os preços domésticos foram influenciados pela apreensão de agentes com a chegada de uma frente fria em parte das regiões produtoras, com geadas que prejudicam o desenvolvimento das lavouras. Esse cenário tem limitado o ritmo de negócios internos.
Cafeicultores
Além disso, da onda de frio vem deixando cafeicultores em alerta. Os produtores das regiões Sudeste e Sul do país estão preocupados com as geadas — a cultura foi prejudicada pelo fenômeno climático no inverno de 2021. No campo, os produtores já começaram as catações iniciais nos cafezais, especialmente no sul de Minas Gerais e em Garça (SP). No restante das regiões, alguns cafeicultores também iniciaram os trabalhos, mas a intensificação está prevista para o fim deste mês e junho. Nas Matas de Minas, produtores já estão em um ritmo um pouco mais avançado de colheita.
Expectativa da BGA é de alta de preços
Para Everaldo Oliveira do Nascimento, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Estado do Rio de Janeiro (BGA-RJ), ainda é cedo para poder avaliar o impacto do frio nas feiras e nos supermercados.
"Nós não temos uma informação precisa sobre uma real alteração e os impactos futuros nos preços, mas sabemos que as folhas sofrem bastante porque queimam com o frio e a geada, assim como tomates, batatas, abobrinhas e frutas diversas", avalia Nascimento.
Segundo ele, porém, esses alimentos com certeza terão aumento nos preços, principalmente se o frio continuar por algum tempo.
"O milho e a cana-de-açúcar, assim como o café, são culturas muito prejudicadas por geadas e certamente vão influenciar no preço e na inflação", acrescenta.
Conforme o presidente da BGA, outros produtos como trigo e cevada, entre outros, dependendo da fase da cultura, também podem ter os preços impactados.
Alimentos da estação
Uma dica para economizar é optar por frutas, legumes e verduras da estação, que costumam ser mais baratas e mais saborosas, pois não passaram por processo de maturação, explica a nutricionista Renata Branco.
As frutas de maio são abacate, banana-maçã, caqui, jaca, kiwi, maçã, pera, tangerina e uva. As verduras são alho poró, almeirão, erva-doce e louro. Entre os legumes podemos destacar abóbora, abobrinha, batata-doce, berinjela, beterraba, cará, cenoura, chuchu, inhame, mandioca, mandioquinha, nabo e rabanete.
Regiões mais afetadas
O sul de Minas Gerais é grande produtor de café e batata. Há também o desenvolvimento da horticultura.
No sul e no oeste de São Paulo, há grandes produções de café, hortaliças, cana-de-açúcar e milho.
Os estados do Sul são voltados para os cultivos de soja, carne, milho, cana-de-açúcar, hortaliças e algodão. Estes estão sofrendo com a ocorrência de geadas e até de neve na região de serra.
Como grande produtor de soja, o Mato Grosso do Sul registrou baixas temperaturas. O estado também tem grandes áreas de cultivo de arroz, café, trigo, milho, feijão, mandioca, algodão, amendoim, cana-de-açúcar e hortaliças.