O secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade
Michel Jesus / Câmara dos Deputados
O secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade

O Ministério de Minas e Energia afirma que ainda busca nomes que “preencham o perfil” para ocupar os cargos de presidente da Petrobras e de presidente do Conselho de Administração da empresa. Enquanto isso, a indicação de Caio Paes de Andrade, assessor de Paulo Guedes, para o cargo de presidente da estatal ganhou a oposição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de acordo com fontes do governo.

O nome de Paes de Andrade é defendido por uma ala do governo, que prefere uma solução caseira para a empresa. Por outro lado, Andrade não é especialista no setor de óleo e gás e nem tem experiência no assunto. Hoje, ele é secretário especial de Desburocratização, Gestão de Governo Digital do Ministério da Economia.

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A falta de experiência também fez o secretário não ser o preferido do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que chegou a entrevistá-lo para o cargo.

O presidente da Câmara também discorda dessa indicação por entender que Paes de Andrade não tem o conhecimento técnico e o traquejo político necessário para comandar a empresa num momento de alta dos preços dos combustíveis num ano eleitoral — situação que levou à queda do general Joaquim Silva e Luna, demitido pelo presdiente Jair Bolsonaro na semana passada.

O assessor de Paulo Guedes, porém, tem trabalhado para assumir a Petrobras, de acordo com integrantes do Executivo. Ele foi cotado na primeira leva, quando Bolsonaro decidiu demitir o general, mas Albuquerque preferiu Adriano Pires. Entre os motivos que levaram a indicação de Pires, está justamente o apoio de Arthur Lira.

Paes de Andrade tem formação em comunicação social pela Universidade Paulista, pós-graduação em administração e gestão pela Universidade de Harvard e é mestre em administração de empresas pela Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Foi ex-presidente da estatal Serpro, de processamento de dados, o que conta como positivo para o seu currículo. Também por já fazer parte do governo, não precisaria se descompatibilizar e nem vender empresas num curto espaço de tempo, como qualquer outro nome do setor privado precisaria fazer.

O consultor Adriano Pires anunciou nesta segunda-feira ter desistido do cargo de CEO da estatal, por conflitos de interesses. No domingo, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, também desistiu de assumir o Conselho da companhia pelos mesmos motivos.

“O governo está definindo os profissionais que preencham o perfil para ocupar os cargos de Presidente da Petrobras e o de Presidente do Conselho de Administração da empresa. Quando esses nomes forem definidos, eles serão devidamente informados”, disse o MME, em nota enviada ao GLOBO.

O ministro Bento Albuquerque se reuniu nesta terça-feira com o presidente Jair Bolsonaro para tratar do assunto. Caberá a Bolsonaro bater o martelo definitivo sobre o assunto.

Albuquerque chegou a convidar o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) Décio Oddone para o cargo de presidente, mas ele recusou, de acordo com interlocutores do governo.

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Ao longo desta terça-feira, diversos nomes foram cogitados em Brasília, mas ainda não há uma definição concreta nem para a presidência da Petrobras e nem para o Conselho de Administração da estatal. Com isso, segundo fontes do governo, dificilmente o nome será publicizado nesta terça.

Há uma série de dificuldades para isso, especialmente a instabilidade causada pela proximidade do período eleitoral e a forma como Bolsonaro vem tratando os presidentes da empresa. O presidente já demitiu dois chefes da Petrobras por insatisfação diante da alta dos combustíveis.

Por isso, diversos executivos do setor dizem que será difícil encontrar um nome do setor privado que tome assumir a Petrobras. Assim, uma corrente no governo defende que nomes que já façam parte do Conselho de Administração ou que já estejam na companhia sejam convidados para os cargos.

Desistência de Pires

Pires desistiu nesta segunda-feira, um dia depois de Rodolfo Landim, indicado para a presidência do Conselho de Administração, também desistir do cargo.

Adriano Pires justificou a decisão por dificuldades para encerrar sua consultoria, que existe há 20 anos e cujo sócio é seu filho, “a tempo” de assumir a Petrobras. No trabalho como consultor, Pires manteria ligação forte com companhias que, muitas vezes, têm interesses contrários aos da estatal.

Entre os clientes de Pires está o empresário e sócio de distribuidoras de gás Carlos Suarez, que é também amigo de Landim. Outros clientes do consultor incluem a Abegás, associação do setor, e a Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto e diversas outras empresas de óleo e gás.

A saída de cena de Pires colocou o governo diante de uma corrida contra o tempo para encontrar novos nomes para os dois postos mais importantes da estatal. O nome foi fechado em reunião nesta terça-feira entre Albuquerque e Bolsonaro, no Palácio do Planalto.

“Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo”, afirmou Pires em carta ao Ministério de Minas e Energia, na noite de segunda-feira.

Em conversas com auxiliares no domingo e ontem, Bolsonaro atribuiu a supostos “inimigos” na Petrobras os obstáculos criados para Pires assumir o cargo. Esses obstáculos deixaram Bolsonaro irritado, e o presidente não queria dar o braço a torcer. Ele reclamou que teria, na sua avaliação, o direito de escolher o presidente da Petrobras.

Ainda assim, o presidente não conseguiu emplacar o nome de sua escolha na Petrobras, um movimento que ele começou a arquitetar há mais de um mês, em paralelo com as críticas à política de preços da estatal — que repassa ao valor cobrado na refinaria a flutuação nas cotações do dólar e do petróleo.

A preocupação com o preço na bomba para o consumidor é especialmente maior em ano eleitoral, com a inflação acumulada em 12 meses em dois dígitos.

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