Banco Central
Rodrigo Digital
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O aumento persistente das cotações de commodities, como alimentos e petróleo, e expectativas de preços na economia para os próximos anos ainda desancoradas se somam ao risco fiscal  doméstico e ao contexto mundial mais desafiador para compor o cenário no qual o Banco Central (BC) decide hoje a nota taxa básica de juros, a Selic.

Essa soma de fatores ainda alimentando a inflação deve pressionar o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC a elevar a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira, quando termina a sua reunião de dois dias.

Com o novo aumento, a Selic deve sair dos atuais 9,25% para 10,75% anuais, em linha com o que o próprio Copom sinalizou em sua última reunião.

Será a primeira vez desde julho de 2017 que o juro básico do país voltará à casa dos dois dígitos.

O que preevem os analistas do mercado?

Para a reunião desta quarta, é consenso entre agentes do mercado uma elevação de 1,5 ponto percentual. Levantamento do GLOBO com 21 instituições mostra unanimidade em torno dos 10,75%.

"Está dado que o Copom deve elevar a Selic em 150 pontos-base amanhã. A razão é por causa da desancoragem das expectativas de inflação. Isso acaba fazendo com que o BC tenha que priorizar o controle da inflação em detrimento da atividade econômica para que possa estabilizar o ambiente macroeconômico", disse o estrategista-chefe do Mizuho, Luciano Rostagno.

Qual será o teto para a Selic?

O fato de a prévia da inflação oficial, o IPCA-15 de janeiro, ter vindo acima das expectativas e com núcleos e difusão piores do que o esperado aumentou as preocupações do mercado.

Além disso, a continuidade da alta das commodities no exterior, como é o caso do petróleo, e pressões internas sobre os preços dos alimentos por problemas nas safras acentuam as pressões inflacionárias. Isso sem citar o risco fiscal e seus efeitos negativos para o câmbio e, por tabela, para a inflação.

O economista da Rio Bravo Investimentos, João Leal, destaca que o dado acima do esperado em janeiro ainda vai pesar bastante na decisão do Copom.

Ele também cita a preocupação do banco em manter as expectativas para a inflação nos próximos anos ancoradas, após não ter conseguido cumprir sua meta em 2021.

"Essas surpresas inflacionárias nos últimos meses têm afetado as expectativas de inflação de 2023, que é o ano que tem mais peso para as decisões do Copom. E essas expectativas já mostram uma pequena desancoragem frente à meta de 3,3% para o ano que vem."

Em alta até março

Leal ainda projeta que o teto da Selic seja atingido em março. No entanto, apenas o arrefecimento dos preços nas próximas divulgações é que, de fato, indicará, até onde a taxa básica pode chegar neste ano.

A chefe de economia da Rico, Raquel de Sá, ressalta que o atual cenário macroeconômico ainda impõe ao BC a adoção de uma política monetária contracionista.

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"A nossa expectativa é que o teto seja 11,5%, não porque acreditamos que o banco vai ser leniente, mas porque olhando para a inflação de 2022 e 2023, esse é um aperto suficientemente grande para trazer a inflação para a meta no ano que vem", disse Sá, destacando que o aperto monetário demanda um tempo para fazer efeito na economia.

Influência da alta dos juros nos EUA

Para os analistas, o aumento de juros no exterior, principalmente por parte do Federal Reserve, o Fed, o banco central americano, não deve ter tanto impacto na decisão, pois um cenário externo mais desafiador já está precificado nos últimos comunicados do Copom.

Sobre o risco fiscal, que tanto penalizou o real em 2021, Leal, da Rio Bravo, destaca que será importante acompanhar ao longo do ano as sinalizações dos presidenciáveis sobre a política econômica.

"Indicações em direção às mudanças nas regras fiscais sem propor outra regra factível e que controle as despesas públicas vão ser bastante ruim para câmbio e para a inflação."

Atenção às entrelinhas do comunicado

O consenso dá mais importância para o comunicado do Comitê, que será divulgado após a reunião.

Os agentes de mercado buscam pistas sobre o que os membros do Comitê esperam para os próximos encontros a fim de melhor calcular em que ponto virá o teto da Selic e se há possibilidade de desaceleração no ciclo de aumento de juros, que começou no início do ano passado. 

No último Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo BC com a mediana das estimativas do mercado, a estimativa para a Selic ao final deste ano estava em 11,75% e 8% ao término de 2022.

Parte do mercado entende que o BC deve manter o tom mais duro no combate à inflação, indicando mais uma alta na mesma magnitude ou um pouco inferior para a próxima reunião. Outra parte entende que a autoridade monetária não deve se comprometer com uma dose de aperto, dado o nível de incerteza.

"A estratégia talvez seja manter a porta aberta e dizer que vai depender dos dados para tomar a decisão da próxima reunião. Essa me parece ser a estratégia mais conveniente para o BC e o mercado aceitaria melhor", disse Leal.

Rostagno, do Mizuho, acredita que os membros do Copom deixarão a porta aberta para desacelerar o ritmo de alta na reunião de março, sem o comprometimento com um novo aumento na casa de 1,5 ponto percentual.

"Um fator de ricos que pode levar o BC a estender o ciclo de aperto monetário para além de março é o preço do petróleo no mercado internacional, o que pode fazer com que a inflação desacelere de uma forma mais lenta e impactar as expectativas de inflação tanto para este ano quanto para o ano que vem."


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