Entenda como a Selic em 9,25% afeta seu dia a dia
Fernanda Capelli
Entenda como a Selic em 9,25% afeta seu dia a dia

O Banco Central voltou a subir a taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira , no maior choque de juros na economia brasileira em 20 anos. Essa foi a sétima alta só em 2021.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu pelo aumento de 1,5 ponto percentual, como já era previsto pelos agentes de mercado, elevando a Selic para 9,25% ao ano.

Mesmo com o país em recessão, especialistas afirmam que a medida foi necessária porque a inflação acumula alta superior a 10% nos últimos 12 meses.

Inflação e juros altos são uma combinação perversa para o orçamento das famílias, a saúde financeira das empresas e as contas do governo. Entenda, abaixo, como este cenário afeta sua rotina.

O Comitê ressaltou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores que empurram os preços para duas direções diferentes:

"Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país".

Boletos e contas do mês

A alta dos preços comprime a renda das famílias. Com a conta do supermercado mais cara, o reajuste maior na escola, os remédios e o plano de saúde subindo, pode faltar salário no fim do mês.

Muitas famílias recorrem ao crediário para fazer as compras caberem no orçamento. Quando a inflação sobe, o orçamento aperta e fica mais difícil honrar as prestações. E a taxa Selic mais alta têm impacto direto no custo do crediário.

Em outubro, a taxa de juros do rotativo do cartão de crédito chegou a 343% ao ano, a maior desde 2017. E nunca o brasileiro usou tanto este tipo de crédito de emergência: o total postergado no rotativo alcançou R$ 21,6 bilhões, recorde histórico.

Investimentos

A inflação também corrói os ganhos das aplicações financeiras. Mesmo com os juros mais altos – o que garante retorno maior para quem põe suas reservas na renda fixa – a escalada dos preços faz o dinheiro valer menos.

Até outubro (último balanço fechado disponível), nenhum dos principais tipos de fundos de investimento tiveram ganho acima da inflação. Os fundos de renda fixa valorizaram no máximo 5,55% em 12 meses, bem menos do que a alta de preços no período, que foi de 10,67% pelo IPCA, índice de inflação ao consumidor usado nas metas do governo.

O novo patamar da Selic vai mudar a regra de correção da poupança. Quando a taxa básica de juros supera 8,5%, a regra de reajuste da caderneta é alterada e passa a ser de 0,5% ao ano mais a TR.

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A regra muda, o ganho aumenta um pouquinho frente ao atual, mas a caderneta segue rendendo pouco acima de 6% ao ano, e abaixo da inflação caso a alta de preços siga no atual patamar de dois dígitos.

Emprego e salários

Com a alta dos juros, um remédio amargo para combater a inflação, a tendência é que as famílias comprem menos (o crediário fica mais caro) e as empresas reduzam seus investimentos (o custo do financiamento para o setor produtivo aumenta).

O resultado é menos vendas no comércio, menos produção na indústria e, com isso, menor abertura de postos de trabalho. O desemprego caiu nos últimos meses, mas ainda atinge 13,5 milhões de brasileiros.

E, ao mesmo tempo, quem está empregado sofre com a inflação corroendo o valor do seu salário. Nos últimos 12 meses, a renda média do trabalhador brasileiro recuou 11,1% - a maior queda já registrada na série histórica do IBGE.

Financiamento imobiliário

A alta de juros tem impacto direto nas prestações da casa própria. A maioria dos contratos no mercado são atrelados, de alguma forma, à TR, taxa de juros que sobe quando a Selic é elevada pelo Banco Central.

Mas a inflação também pesa. O setor de construção civil tem se queixado de uma alta de custos que será repassada ao preço dos imóveis.

Além disso, há algumas modalidades de crédito imobiliário atreladas ao IPCA, o índice de inflação usado nas metas do governo e que superou 10% nos últimos 12 meses.

Custo para as empresas

A alta de custos é uma queixa recorrente das empresas brasileiras que, muitas vezes, dado o cenário de um país em recessão, não conseguem repassar para os preços de seus produtos essa pressão.

Além disso, a alta da Selic torna mais cara a gestão do fluxo de caixa e o crédito para financiar uma expansão do negócio.

Contas do governo

Num primeiro momento, a inflação é um presente para as contas públicas. Eleva arrecadação e dá a falsa sensação de orçamento mais equilibrado. Mas, a longo prazo, vem o custo. A inflação eleva as despesas com aposentadorias e pensões do INSS, principal rubrica dos gastos do governo.

A alta de juros para combater a inflação pressiona a dívida pública, já que a maior parte dos títulos emitidos pelo governo para se financiar são corrigidos pela Selic.

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