App de transporte
Imagem cedida pela autora

Habitante de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, Layla Marques (30) é analista de custo durante a semana e motorista de app aos finais de semana.


Um levantamento da  99 revelou que, durante 2020, os motoristas paulistanos afiliados ao aplicativo ganharam 48% mais gorjeta que no ano anterior.

Apesar da pandemia e da crise econômica decorrente, os trabalhadores receberam, no total, R$1,3 milhão em gorjetas. Em 2019, o valor foi de R$919 mil. 

Layla Marques, de 30 anos, dirige somente aos fins de semana. E a cada duas semanas. Mesmo assim comemora. "Sempre tem [gorjeta], em pelo menos uns três ou quatro trajetos que eu faça nesse período de três dias", contou. Ela faz viagens em aplicativos de transporte em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, há cinco anos.

Na avaliação dela, isso tem a ver com tratamento ao passageiro. "Tem muita gente que entra quieta e sai calada, né? Entram, pagam, chegam no lugar e saem. Normalmente essas pessoas não dão gorjeta", comentou.

"Geralmente quem faz o pagamento a mais é quem da abertura de conversar com o motorista. Aí vai do papo, né? Normalmente, eu desenrolo bem e até fiquei amiga de alguns passageiros". 

Para Alexandre Banciella, 31, a situação não é tão boa assim. "Acho que erraram nesta pesquisa", disse. Ele começou a  fazer viagens na 99 em março do ano passado para complementar a renda de professor. Durante o ano inteiro, ele conta ter recebido três gorjetas, "no máximo".

Não foi a primeira experiência dele com transportes. Em seu intercâmbio na Irlanda, Banciella trabalhou com delivery de alimentos. "Lá fora isso é muito comum, né? As pessoas têm essa cultura de pagar a mais por qualquer tipo de trabalho que você faça".

Em fevereiro de 2020, ele voltou de Dublin para o Campo Limpo, o bairro na zona sul de São Paulo onde sempre morou. Assumiu algumas aulas de história e deu os primeiros passos da sua carreira docente. Um mês depois, a crise do coronavírus o fez repensar seus planos. Pegou o carro do sogro emprestado e foi ser motorista de aplicativo.

Alguém sabe me dizer se a promessa dos "Humilhados que serão Exaltados" vem ainda esse ano?

Publicado por Alexandre Banciella em  Terça-feira, 1 de outubro de 2019



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Em novembro, ele se "aposentou" da 99. "Tinha dia que eu fazia exatamente o valor que eu tinha eu tinha colocado de gasolina . Ou seja, não fiz dinheiro, deu zero a zero", relata. "Em outros dias, eu saí e fiz R$ 300, tá ligado? Trabalhando oito, dez horas, na rua. Não valia a pena".


$impatia


26% das avaliações feitas pelos passageiros da capital classificaram os motoristas parceiros da empresa como "muito simpáticos", e 24% como "dirigem bem". Em 2020, foram mais de 45 milhões de corridas avaliadas por meio do app, com uma classificação média de 4,9 estrelas.

"Às vezes é R$1, R$2… R$5 foi o máximo que eu já recebi de um passageiro, e acho que nunca passa disso", diz Layla. Na empresa, o valor da gorjeta é repassado integralmente aos motoristas.

Tamara Komatsu, gerente de operações da 99, aponta que o aumento das gorjetas se deve a maior valorização da profissão dos motoristas. "A pandemia trouxe uma visibilidade maior a diversos profissionais, como os da área da saúde, os entregadores e os motoristas. Na 99, o reconhecimento é visto nesse aumento de quase 50% no valor das gorjetas”.

Ainda assim, o setor de transportes não saiu ileso do impacto econômico da pandemia. “Para se ter uma ideia”, conta Komatsu, “ sentimos uma queda de dois dígitos de março a maio de 2020, se comparado ao início do mesmo ano”.

“No entanto, ainda em novembro retornamos aos níveis pré-pandêmicos”, relata a gerente. 

Os motoristas percebem de maneira diferente. “O fluxo, a demanda de passageiros nunca parou, até porque muitos motoristas precisaram parar de trabalhar já que tinham carro alugado e, com a queda na renda, precisaram devolver, né?”, aponta Layla. 


Recorte regional


Assim como Layla, Alexandre vive na periferia de São Paulo. “Nos dias que fiz algum dinheiro, onde tava esse dinheiro? Em Osasco, onde as coisas não fecharam. Nas margens da cidade, né? Diadema, Capão Redondo, Campo Limpo, Taboão, que era onde continuou o fluxo de pessoas”, explica o professor. 

De acordo com Komatsu, parte do sucesso de 2020 se deve à diferença observada por Alexandre. “Esse foi um público que praticamente não pode cumprir a quarentena, pois precisa sair para trabalhar, ao mesmo tempo em que busca meios de locomoção que não gerem aglomeração”.

O levantamento demonstra que 20% dos moradores da periferia não puderam fazer isolamento e trabalharam todos os dias. 32% fizeram de 1 a 3 meses de quarentena.

“São duas realidades, né? Quando eu ia pro Brooklin, Vila Olímpia, Jardins, estava tudo fechado, não pegava quase ninguém. Quando ia pra periferia, era onde eu fazia dinheiro porque era onde tinha as pessoas e onde as coisas não pararam de jeito nenhum”, conta Alexandre. 

Os moradores das periferias de São Paulo estão utilizando o transporte por aplicativo com maior frequência, 54% a mais do que em 2019. 

Dentre as justificativas dos ouvidos pelo levantamento, a principal é evitar aglomerações e contaminação pelo coronavírus na viagem (46%). Também pesam a comodidade e o tempo de deslocamento.

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