Apesar do maior tempo em casa e da disponibilidade para leitura, as vendas de livros caíram
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Apesar do maior tempo em casa e da disponibilidade para leitura, as vendas de livros caíram

Vindo de um cenário de recuperação após três anos de recessão (2015, 2016 e 2017), em janeiro de 2020 o setor dos livros mostrou uma tímida melhora, porém, a chegada da  pandemia  do  novo coronavírus  (Sars-coV-2) piorou a situação novamente. 

Em março - época em que decretos de restrição de mobilidade começaram a entrar em vigor -, o faturamento do mercado de livros registrou queda de 18,3%, e em abril alcançou o pico negativo de 33%. Os dados são do levantamento mensal realizado pela GFK em parceria com a Associação Nacional de Livrarias.

Mesmo havendo reabertura gradual do comércio em diferentes regiões do País, Bernardo Gurbanov, presidente da ANL , afirma ao  Portal iG  que o setor está longe de se recuperar: “As informações que temos é que as vendas estão entre 30 a 40% abaixo do que eram”.

Em contraponto, o presidente da ANL afirma que a  pandemia  tem impulsionado as vendas on-line, fazendo o mercado atingir picos de 40% a 45% no faturamento de algumas empresas. “Logicamente, as grandes têm vantagem nisso, mas as pequenas também vêm inovando, promovendo eventos online e fazendo as vendas dos livros físicos pela internet”, explica.

Para Leida Reis, por exemplo, empresária do ramo livreiro, o início da crise sanitária foi o adiamento de um sonho. Visando ampliar os negócios, que davam sinais de melhora, ela inaugurou a Livraria Páginas em Belo Horizonte. Porém, o estabelecimento ficou aberto exatos cinco dias, pois logo medidas de isolamento foram adotadas em sua região. 

À direita: Leida Reis na Livraria Páginas
Arquivo pessoal
À direita: Leida Reis na Livraria Páginas

Focada em dar a volta por cima, ela resolveu vender livros para sua clientela por WhatsApp, onde têm tido relativo sucesso. “No primeiro momento, não tínhamos pensado em venda on-line. apenas no último dia (antes da quarentena) nós compramos um celular e começamos a vender pelo aparelho...e estamos conseguindo tocar o negócio”, declara.

Além da rede social de mensagens, a livreira citou também que aumentou sua presença na internet criando uma conta no Instagram para para a livraria. “É recente, não tem muitos seguidores ainda, mas têm crescido bastante. E a gente têm vendido. Estamos sobrevivendo com essas vendas on-line”.

Já Gisela de Castro, autora e pequena empresária do ramo, arranjou uma maneira diferente de manter seu comércio na ativa: entregando os pedidos montada em uma bicicleta. “Com as livrarias fechadas, algumas livrarias começaram a me pedir, pontualmente, livros para os clientes que compravam pela internet. Eu já tinha meu site e links de venda nas redes sociais. Comecei a fazer promoções e vi que as pessoas se interessavam muito pelo livro personalizado, com dedicatória. Como não tenho carro e é  preciso evitar transporte público, passei a levar de bicicleta. Quando não é possível, posto pelos Correios mesmo”, disserta ela.

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Gisela de Castro entrega livros de bicicleta em meio à pandemia de Covid-19
Reprodução / Redes Sociais
Gisela de Castro entrega livros de bicicleta em meio à pandemia de Covid-19

Sobre manter negócios apenas no âmbito on-line, Gisela, em seu caso específico, não vê problemas. “Para mim até que está sendo positivo, porque como editora independente eu quase não tinha espaço nas lojas físicas. Meu livro não ficava exposto e as pessoas não conheciam meu produto. Agora no Instagram, tem sido um sucesso. E quando alguém comenta sobre o livro, logo aparecem contatos novos, no mínimo pedindo informações”.

Com as livrarias fechadas, a produção do mercado editorial também está sofreu o impacto. A Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) alega que a queda no faturamento da produção do setor varia entre 40% e 50% no mês de março em comparação com fevereiro, por conta do cancelamento de pedidos de revistas setoriais, jornais tabloides e lançamentos de livros. Não há, por enquanto, previsão de retomada.

A retomada

Bernardo Gurbanov, presidente da ANL
Reprodução Band
Bernardo Gurbanov, presidente da ANL

Ao falar sobre retornar às atividades, Bernardo Gurbanov cita três projetos de leis (PL’s) que a ANL têm trabalhado em conjunto com políticos para beneficiar o setor livreiro, desde pequenas livrarias e até sebos. A intenção é disponibilizar recursos para que a área possa se restabelecer na reabertura do comércio.

Além disso, a ANL têm organizado um fundo financeiro que visa dar uma espécie de auxílio emergencial às livrarias. “Se chama projeto ‘Retomada’. É uma arrecadação de dinheiro (de pessoas físicas e jurídicas) para ser distribuído entre pequenas livrarias que se cadastrarem“, comenta o presidente da ANL.

“A ideia é arrecadar dinheiro para ajudar pequenas livrarias. Não vai salvar a vida de ninguém, mas pode colaborar nessa retomada de atividade, visando o bem comum do setor”, completa ele.

Para se cadastrar no projeto a pessoa deve acessar o site . Apenas livrarias pequenas e com cinco funcionários estão aptas a participar. O valor a ser recebido ainda não foi decidido, pois o projeto está em fase de arrecadação. 

Questionado sobre o mercado das livrarias após a pandemia , o presidente da ANL não pestaneja. “[Será] um período de recuperação lenta e com a incorporação dessas novas modalidades de consumo (vendas on-line)”, diz ele, que finaliza citando Gisela: “Deem um jeito de continuarem no mercado, porque isso passa. Está durando mais do que gostaríamos, mas passa. Cada um buscando soluções que estejam ao seu alcance, como entregar livros em uma bicicleta, por exemplo”.

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