Mais um gol da Alemanha? Enquanto brasileiro precisa trabalhar 48 horas para conseguir comprar camisa da seleção, alemães precisam de apenas 11
Jefferson Bernardes/VIPCOMM
Mais um gol da Alemanha? Enquanto brasileiro precisa trabalhar 48 horas para conseguir comprar camisa da seleção, alemães precisam de apenas 11

Lembrar da última vez que Brasil e Alemanha estiveram em campo numa Copa do Mundo não é nada agradável para nós brasileiros. Em plena semifinal, a Alemanha fez 7 a 1 no Brasil. E assim como aconteceu dentro de campo, fora dele o Brasil também toma uma goleada dos alemães quando comparamos o valor do salário mínimo e da camisa oficial da seleção de cada país: enquanto um brasileiro precisa de 48 horas de trabalho para conseguir compra o item, um alemão precisa de apenas 11.

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O levantamento realizado pela plataforma de descontos Cuponation, porém, não comparou apenas o preço da camisa e do salário mínimo de Brasil e Alemanha e abarcou 25 dos 32 países que participam do mundial. Sete ficaram de fora por não atender critérios como ter um valor de salário mínimo definido em todo o país. Dentre os pesquisados, porém, boa notícia para australianos e europeus. E má notícia para os africanos.

Confronto de realidades distintas

A Copa do Mundo é um dos poucos eventos no mundo que tem capacidade de colocar frente a frente países de culturas, localizações geográficas e contextos econômicos tão distintos. Mas se dentro de campos, surpresas como a vitória do México sobre a Alemanha podem acontecer, fora de campo, é mais difícil.

A maior discrepância entre os países pesquisados é de Nigéria e Austrália. Enquanto os australianos precisam trabalhar apenas 7 horas para conseguir adquirir camisa oficial de sua própria seleção, os nigerianos precisam de longas 298 horas de trabalho. Quase dois meses de trabalho, considerando uma jornada diária de 8 horas.

Surpreendentemente, porém, essa quantidade absurda de esforço necessário não foi suficiente para que a procura pela camisa da seleção nigeriana fosse baixa. Pelo contrário. Considerado um dos uniformes mais bonitos dessa edição, as unidades disponíveis na loja e até no site da fornecedora oficial de material esportiva da Nigéria se esgotaram em minutos após o lançamento. Foram mais de 3 milhões de itens vendidos e longas filas formadas do lado de fora das lojas tanto na Nigéria quanto em outras partes do mundo.

Na outra ponta, porém, apesar dos australianos lideram o ranking, são os europeus que dominam as primeiras posições. Franceses e ingleses dividem a segunda posição com apenas 9 horas de trabalho dedicadas à compra da camisa da seleção. Na sequência aparecem Bélgica e a própria Alemanha, com 10 e 11 horas dedicação necessárias para adquirir o item.

Curiosamente, a única nação europeia que foge à regra é a própria anfitriã Rússia. Por lá, apesar do país ter se tornado a capital do futebol durante essas quatro semanas de Copa do Mundo, os russos ainda precisam trabalhar 77 horas para comprar a peça oficial da seleção que surpreendeu e voltou a se classificar para as oitavas de final do mundial de futebol.

Já na comparação com nossos vizinhos sulamericanos, o cenário brasileiro não é lá muito bom. Com exceção à Colômbia, onde um trabalhador que ganha o salário mínimo precisa trabalhar 54 horas para obter o valor necessário para comprar a camisa, o Brasil perde para todos os outros, já que enquanto no Brasil são necessárias 48 horas, na Argentina são 45; no Uruguai, 42; e no Peru, 35.

Impacto da Copa na economia

As camisas oficiais de cada seleção certamente são o item mais buscado por torcedores de todos os lugares do mundo, mas não são os únicos capazes de movimentar as economias locais na época do Mundial.

Enquanto na Rússia, mais de 2,4 milhões de ingressos já foram vendidos, uma pesquisa realizada nas capitais brasileiras pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelou que cerca de 60 milhões de consumidores brasileiros devem gastar com produtos ou serviços relacionados à Copa do Mundo e acabar movimentando mais de R$ 20 bilhões na economia nacional.

Nessa pesquisa realizada com 1.061 consumidores de ambos os gêneros, de todas as classes sociais, acima dos 18 anos e em todas as capitais do país, apenas 25% disseram que não devem consumir produtos ligados à Copa do Mundo.

Sendo assim, no caso do Brasil, como no caso da Nigéria, a busca pela camisa oficial da seleção continua em alta. Segundo a Cuponation, o termo "camisa do Brasil" foi 172% mais procurado no Google em maio deste ano do que em maio de 2014, quando a Copa foi realizada no Brasil o que demonstra um interesse crescente da população nos produtos temáticos da seleção durante esse período.

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Divulgação

Golpe de WhatsApp oferece camisa oficial de seleção brasileira

Mas se as buscas no Google não seriam indícios suficientes para confirmar essa teoria, os dados da Razac Trading, uma empresa especializada em comércio exterior que possui uma ferramenta exclusiva que fornece dados sobre importação, desde janeiro de 2017, não dão margens para dúvida. Segundo eles, a quantidade de camisas da seleção importadas de janeiro a abril de 2018 foi de 293.362 unidades, o que movimentou quase 3 milhões de dólares, um crescimento de 33% em unidades, comparado ao mesmo período de 2017.

Ainda segundo a Razac Trading, as camisas originadas, em sua maioria, da Indonésia (69%) e da Tailândia (25%) entram no Brasil sobretudo pelo porto de Santos (775) e pelo aeroporto de Guarulho (15%), mas não se resumem apenas às camisas amarelas do uniforme principal. Enquanto essas atraem 30,3% das atenções, a camisa azul de jogo reúne 18,6% dos interessados e a camisa de treino, bastante elogiada, 8,8% dos compradores.

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Produtos piratas e comércio alternativo

Esses números, porém, correspondem apenas às camisas oficiais importadas pelas empresas com autorização para comercializar esse tipo de artigo com autorização da CBF que é dona dos direitos sobre o uniforme que é quase um patrimônio nacional. Porém, como uma camisa oficial do Brasil pode chegar a custar mais de R$ 250, há um temor bastante grande em relação aos produtos piratas.

A pesquisa do SPC e da CNDL também confirmou esse temor. Segundo esse estudo, 35% dos 843 entrevistados que afirmaram que vão gastar dinheiro com itens ligados ao mundial tem preferência por lojas de rua e outros 28% por camelôs. Esses indivíduos vão gastar com adereços (61%), decoração (54%) e acessórios (48%) para poder acompanhar as partidas do mundial em casa.

Entre cerveja (74%), refrigerantes (72%), tira-gostos (56%), pipoca (37%), salgados (39%) e itens para churrasco (49%), os consumidores que pretendem assistir o mundial em casa no casa de amigos  (44%), a estimativa média de gastos é de R$ 119 durante a Copa do Mundo, abaixo, portanto, do preço de uma camisa oficial.

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Já entre os outros 62% que vão assistir a pelo menos um jogo da Copa em bares ou restauranres que transmitirem as partidas, os gastos são um pouco maiores: em média, R$ 128, mas ainda abaixo do preço de uma camisa oficial.

Entre esses, 35% afirmaram que vão priorizar o preço acessível das bebidas, 30% a qualidade do serviço, 27% a presença de amigos ou familiares e outros 27% levarão o tamanho do telão em consideração na hora de escolher o estabelecimento em que vão assistir os jogos.

A pesquisa ainda revelou um outro hábito interessante com os quais os brasileiros já estão gastando dinheiro nessa Copa: 46% dos entrevistados afirmaram que estão participando de algum bolão da Copa.

Soma-se a isso, os 38% que vão adquirir serviços de internet para smartphone e 21% que pretendem contratar pacotes de TV por assinatura para conseguir acompanhar a programação esportiva durante o Mundial e o impacto na economia nacional por conta da competição deverá atingir os estimados R$ 20,3 bilhões.

No Saara, comércio popular no centro do Rio, decorado com bandeiras do Brasil, para onde se olha, as lojas exibem as cores verde e amarelo da camisa da seleção
Agência Brasil/Fernando Frazão
No Saara, comércio popular no centro do Rio, decorado com bandeiras do Brasil, para onde se olha, as lojas exibem as cores verde e amarelo da camisa da seleção


Poder aquisitivo do brasileiro

A pesquisa da Cuponation aproveitou a oportunidade para revelar quantas horas de trabalho são necessárias para que os brasileiros possam comprar outros itens mais básicos além da camisa da seleção brasileira. E os resultados também confirmaram que o brasileiro continua tendo que trabalhar muito para poder adquirir todo tipo de produto.

Levando em consideração o salário mínimo de R$ 954 e um preço médio da cesta básica de R$ 384 calculcada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (DIEESE), são necessárias 68 horas de trabalhao para obter conseguir o produto. Já outros itens como um celular de categoria intermediária com preço médio de R$ 700, o brasileiro precisa trabalhar 123 horas.

O próprio DIEESE também usa o valor da cesta básica mais cara entre as capitais brasileiras para calcular o valor do salário mínimo ideal do brasileiro. A conta leva em consideração os preceitos constitucionais que preveem que o salário de um trabalhador deve ser suficiente para cobrir todos os gastos com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e Previdência Social de uma família com dois adultos e duas crianças.

Como o gasto estimado em alimentação de uma família do extrato social mais baixo da população é em torno de 35%, o DIEESE faz uma ponderação para saber qual o valor total necessário para suprir todos os direitos básicos de um trabalhador e, portanto, definir mensalmente o valor do salário. O último número divulgado, relativo ao mês de maio, foi de R$ 3.747,10.

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O valor é 3,92 vezes o salário atualmente em vigor e seria capaz de comprar uma camisa oficial da seleção brasileira com "apenas" 15 horas de trabalho. Uma quantidade bem mais próxima do patamar alemão.

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